Fórum sobre ESG, em Santos, propõe lucro aliado ao propósito

No evento promovido pelo Grupo Tribuna pelo segundo ano, o Eixo ‘G’, de governança, foi o destaque

Por: Maria Carolina Ramos, colaboradora  -  03/12/23  -  19:35
Encontro, realizado no auditório do Grupo Tribuna, reuniu empresários, especialistas e público interessado em entender mais sobre o ESG
Encontro, realizado no auditório do Grupo Tribuna, reuniu empresários, especialistas e público interessado em entender mais sobre o ESG   Foto: Vanessa Rodirgues/AT

A governança corporativa deve ganhar vida no dia a dia das empresas para que, de fato, elas sejam reconhecidas pela eficácia da sua política ESG. Essa mudança pode se configurar como um grande desafio ao exigir a transformação cultural do ambiente empresarial, mas já começa a se materializar em algumas corporações.


Esse foi um dos assuntos explorados pelos especialistas reunidos no auditório do Grupo Tribuna, no terceiro encontro da Agenda ESG, para debater o eixo governança.


O encontro foi realizado na quarta-feira com o tema Eixo G: Promovendo a Sustentabilidade Empresarial, o último da série programada nessa iniciativa do Grupo Tribuna, que chegou a sua segunda edição. Os dois primeiros debateram os eixos ambiental e social, apresentando esse movimento que vem ganhando a adesão das empresas.


A abreviatura é do inglês Environmental, Social e Governance (Ambiental, Social e Governança).


Conceito 'G'
O eixo G da pequena sigla cresce de valor ao determinar procedimentos e regras transparentes sobre as condutas e posturas empresariais, direcionando as ações para todas as partes interessadas no negócio. No debate do dia 29, essa relevância ficou evidente, embora se refira a um processo gradual que implica, necessariamente, a transformação cultural do ambiente de trabalho.


Uma das ferramentas mais poderosas para essa mudança é o compliance, que também pode ser entendido, de forma geral, como a conformidade com as regras estabelecidas pela política de governança. “O compliance está dentro do pilar da governança e é hoje uma ferramenta indispensável para a sustentabilidade da empresa, entendida também como perenidade e desenvolvimento”, explica a diretora de Compliance e Investigações do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (Ibrac), Maria Cecília Andrade.


“Ele vem evoluindo e saindo de uma estrutura em que as empresas estavam mais preocupadas com controles e processos, tomando forma também em outras agendas”, completa.


Informar x educar
Para a presidente da Comissão de Compliance da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo, Flávia Lepique, o compliance não diz mais respeito somente ao combate à fraude e à corrupção. Esse programa vai além, permeando todas as áreas e esferas da empresa, alcançando ações contra os assédios moral e sexual e colocando a importância do valor social do trabalho humanizado e das questões relacionadas às leis trabalhistas, por exemplo. “Trata-se de um processo contínuo e de um treinamento diário”, coloca.


Para ela, é fundamental que as pessoas sejam educadas para essas questões. “Estamos acostumados a informar, que é diferente de educar. Informar se refere a um calhamaço de documentos, mas não há treinamento. Eu vejo uma falha de ensinar, de educar, de formar as pessoas”, coloca.


Compliance cria ambiente íntegro
Para o professor da FGV e sócio-fundador da GO Associados, Gesner de Oliveira, o compliance tem o poder de criar um ambiente de integridade. Oliveira foi um dos mediadores do encontro, ao lado da jornalista Arminda Augusto, diretora de Projetos e Relações Institucionais do Grupo Tribuna. “A empresa precisa de normas claras, bem precisas, para as pessoas poderem se nortear”, afirmou ele.



Seu comentário ilustrou uma pesquisa apresentada pelo superintendente de Governanças, Riscos e Compliance da Autoridade Portuária de Santos (APS), Cláudio Bastos.


Segundo Bastos, esse estudo mostrou a posição de pessoas diante de dilemas éticos e pressões situacionais. “O principal resultado pode ser ilustrado por um gráfico com uma curva que se assemelha a um chapéu mexicano: em um dos extremos, 15% dos entrevistados tendem a fazer o que é certo e, no outro, 15% agem de maneira exatamente contrária, pendendo a serem desonestas”, contou. “No meio, estão os 70% que se mostram flexíveis ao agirem de acordo com o ambiente em que estão inseridos. Aí está a importância da governança, que age sobre essa grande massa, criando uma cultura de integridade dentro da organização e influenciando positivamente essas pessoas, trazendo-as para o lado bom da força, por assim dizer.”


Certo e errado
A professora de ESG do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-SP), Viviane Elias Moreira, reiterou que é a governança corporativa que vai direcionar o que é certo. “Talvez, se esses princípios fossem realmente adotados, não teríamos tantos escândalos ou tantos desvios”, comentou.


Sua fala foi reforçada por Maria Cecília, que levantou os casos das empresas OpenAI e Americanas para explicar o problema que se apresenta na ausência de uma política de governança corporativa e de um programa de compliance bem estruturados.


No caso da primeira empresa, o CEO Sam Altman foi demitido pelo Conselho de Diretores para, poucos dias depois, voltar para a corporação em decorrência de um manifesto coletivo dos funcionários, prontos a renunciar diante da situação. A segunda vem sendo foco de atenção devido a casos de fraude. “Se uma empresa chega em uma situação tão delicada é porque não dispunha de governança nem de compliance”, disse. “Por essa razão, a sigla ESG deveria começar pela letra G, porque é esse eixo que vai direcionar para as ações voltadas ao meio ambiente e ao social. É como se tivéssemos um filho e não disséssemos o caminho que ele deve seguir”, ilustrou Viviane.


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