ESG convoca empresas para ação social em Santos

Segundo fórum da Agenda ESG, promovida pelo Grupo Tribuna, debate participação do setor privado em compromissos sociais

Por: Maria Carolina Ramos, colaboradora  -  29/10/23  -  07:16
Fórum abriu ao público a oportunidade de conhecer mais sobre o eixo S do movimento ESG
Fórum abriu ao público a oportunidade de conhecer mais sobre o eixo S do movimento ESG   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

As empresas estão recebendo um chamado que as conclama para ações efetivas, justas e sustentáveis voltadas a uma sociedade mais igualitária. Trata-se do eixo Social incluído na política ESG (ambiental, social e governança na sigla em português), discutido por especialistas na segunda edição do encontro da Agenda ESG, realizado na última quinta-feira no auditório do Grupo Tribuna.


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A abertura do evento, com dois painéis de debate, teve a participação do professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e sócio-fundador da GO Associados, Gesner Oliveira, que mediou o encontro juntamente com a jornalista Arminda Augusto, gerente de Projetos do Grupo Tribuna.


Na opinião de Gesner, é necessário um maior olhar para o propósito da empresa, alcançando o entendimento de que não há mais a separação entre a organização e a sociedade. “Esses muros foram eliminados e hoje qualquer organização social, não só uma empresa que visa legitimamente o lucro, tem paredes de vidro. A sua vida interna é observada por toda a sociedade e avaliada segundo a coerência daquilo que ela efetivamente faz com os valores e princípios que propaga”, analisa.


Ter um propósito
Essa reflexão também é colocada na fala do presidente da Fundação Iochpe, Claudio Anjos, um dos debatedores do encontro. “A principal função da empresa é ser relevante para a sociedade. A função de ter lucro já está ficando cada vez mais datada e deve ser consequência dessa relevância”, afirma.


A Fundação Iochpe é uma organização que desenvolve programas com foco no desenvolvimento integral de crianças e adolescentes por meio da arte-educação e do ensino profissionalizante. Anjos conta que as novas gerações percebem cada vez mais a necessidade dessa mudança.


“Uma pesquisa mundial feita com as gerações Millenials e Z mostrou um recorte brasileiro dos nossos jovens. À pergunta sobre quais fatores fariam que ficassem em um emprego, 75% responderam que seria a empresa ter um propósito. Portanto, para o negócio sobreviver, é importante abraçar essa causa, do contrário a organização não vai conseguir atrair e reter talentos, nem gerar inovação e se perpetuar”, pondera.


Projetos criam novas conexões
Já há iniciativas, como as apresentadas durante o encontro, que criam coesão entre o propósito da empresa e o impacto social que têm na sociedade, dando respostas especialmente importantes para o Brasil, em que demandas sociais graves, como a desigualdade, imperam.


O Movimento LED - Luz na Educação retrata de que forma uma empresa pode interferir de forma positiva na sociedade ao mesmo tempo que alinha seus valores e princípios. Essa iniciativa é da Rede Globo e foi apresentada pela gerente de Valor Social da empresa e coordenadora do projeto LED (Luz na Educação), Viridiana Bertolini. Ela participou do primeiro painel do encontro com o tema Diversidade, Equidade e Inclusão, que procurou debater de que forma as organizações podem trabalhar para garantir ações do Eixo S no meio corporativo.


Outras iniciativas empresariais voltadas ao bem-comum também foram apresentadas durante os dois painéis do evento (veja nestas páginas). O Movimento LED é uma iniciativa desenvolvida pela Globo desde 2021, quando a companhia passava por uma reestruturação e entendeu que estava se tornando uma nova empresa. “Nesse momento, foi percebida a necessidade de um braço social que tivesse a ver com o DNA, com a história da Globo, que sempre foi pautada pelo fomento à educação como vetor de transformação social”, conta.


Premiar quem faz
O Movimento LED olha para quem está transformando educação na ponta e impulsiona essas iniciativas”, explica. Essa iniciativa reconhece quem está revolucionando o futuro da educação no Brasil e dissemina essas boas práticas educacionais, premiando ações de professores, estudantes, empreendedores e criadores de conteúdo com R$ 1,5 milhão, no total.


Possui três principais pilares: uma premiação; um festival que conecta iniciativas e especialistas para conversarem sobre o futuro da educação, e uma comunidade digital que mantém conversas constantes sobre o tema.


Primeiro passo é identificar a realidade
A especialista em Gestão Pública de Saúde e membro do Centro Internacional de Longevidade Brasil, Amena Ferraz, também esteve presente no primeiro painel do evento e enfatizou que não há uma solução simples para problemas complexos, como aqueles envolvendo questões sociais de desigualdade racial ou de gênero.


De acordo com ela, deve-se começar pelo reconhecimento do que é feito, onde se está e o que se pode fazer. Por exemplo, no Brasil, quase 56% da população se declara negra (incluindo aqueles que se intitulam pardos), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Amena, uma empresa pode se questionar de que forma essas pessoas estão representadas em seu quadro funcional. “A partir daí, tem início uma comunicação efetiva sobre esse tipo de questão”.


Ela enfatiza a possibilidade de como um processo metodológico pode auxiliar nesse diagnóstico. “Elaboramos uma pesquisa que não se atém aos aspectos quantitativos, mas o quanto esses números têm valor qualitativo. Produzimos então um índice de reconhecimento das questões de abordagem racial”, explica, completando que esse processo metodológico é desenvolvido desde 2020. “Nossa intenção não é fazer um ranking, mas sim mobilizar mais empresas, que podem aprender com quem já avançou”.


Homens da liderança
De acordo com ela, um dos últimos dados levantados por esse índice mostra que 19% dos cargos nas empresas participantes da iniciativa são ocupados por homens pretos, enquanto que as mulheres estão em 12%. “Essa realidade é bem distante do recorte populacional mostrado pelo IBGE, em que os pretos são a grande maioria da população”, compara Amena.


Ainda de acordo com o Censo 2022, a população do Brasil tem 51% de mulheres. “Essa situação das empresas evidencia a problemática não só das questões raciais, mas também das de gênero”, completa. Para ela, ações dentro do eixo S não devem ser pontuais e nem reduzidas a um pequeno espaço, mas sim construídas pelas organizações para que contemplem a realidade do Brasil.


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