Desafio inclui diversidade e equidade

Pretos e pardos representam a maioria da população brasileira (56%), mas não ocupam mais que 5% dos cargos executivos

Por: Maria Carolina Ramos, colaboradora  -  29/10/23  -  07:15
Questões de gênero, raciais e de identidade estiveram no centro do debate no segundo painel da Agenda ESG
Questões de gênero, raciais e de identidade estiveram no centro do debate no segundo painel da Agenda ESG   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

O segundo painel do fórum Agenda ESG teve como tema Vulnerabilidade social no Brasil - implementando uma cultura de diversidade e inclusão e discutiu a participação das pessoas vulneráveis, em particular as pretas, nas empresas, além de apresentar iniciativas que podem mudar essa realidade.


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Se, por um lado, os pretos representam a maioria da população - 56%, correspondendo a cerca de 115 milhões de pessoas -, por outro não ocupam mais do que 5% dos cargos executivos nas organizações. “A situação piora quando falamos das mulheres negras, que respondem por 0,4% dessas posições nas 500 maiores empresas brasileiras”, afirma o presidente do comitê de gestão do Lide Equidade Racial, Ivan Lima, participante do debate.


Essa desigualdade também é atestada pelos dados do IBGE, apontando que, entre os 10% mais pobres da população, 78,9% são pretos e pardos, enquanto que a grande maioria dos 10% mais ricos (72,3%) são brancos. “Estamos entre as dez maiores economias do mundo, mas também pertencemos ao grupo dos dez países mais desiguais do planeta”, avalia Lima.


Origem poderosa
Ele explica que os pretos não são descendentes de escravos, como ensinam os livros escolares. “Descendemos de grandes civilizações africanas, de reinados fortes e poderosos, de reis, rainhas, príncipes e princesas. Somos fruto de um povo que desenvolveu a escrita, as ciências, a astrologia e as pirâmides”, afirma.


“Somos descendentes de homens e mulheres que trouxeram as técnicas agrícolas e de metalurgia, imprescindíveis para os ciclos econômicos do Brasil, seja o da cana no Nordeste, do ouro e minérios em Minas Gerais ou do café em São Paulo e no Rio de Janeiro. Existe uma história dos negros e da África sem o Brasil, mas não existe uma história do Brasil sem os negros e sem a África”, completa.


Startup faz conexão
Um exemplo de como gerar mobilidade social parte do aplicativo Akiposso+, apresentado no segundo painel do encontro. “Nós reunimos 40 mil pessoas, 80% delas são mulheres e a grande maioria é formada por mulheres pretas de comunidades carentes”, explica a criadora e CEO do Akiposso+, Andrea Napolitano.


A Akiposso+ é uma organização sem fins lucrativos que usa a tecnologia para promover a inclusão social e a transformação na vida de pessoas em situação de vulnerabilidade, oferecendo vagas de emprego, cursos diversos, consultas de saúde e orientações para criação do próprio negócio, entre outras ações.


Um total de 400 parceiros dos setores público e privado está envolvido na iniciativa. “Temos resultados muito positivos, já que 60% das participantes saem capacitadas e 39% com algum tipo de geração de renda, seja oriunda de emprego ou de uma atividade de empreendedorismo”, conta a CEO.


Apoio a empresas
Outra iniciativa que pode ajudar a reduzir a desigualdade social do Brasil parte das ações do Instituto Ethos, que sensibiliza e ajuda as empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente responsável.


“É importante priorizar o eixo S do ESG principalmente ao reconhecermos o contexto social, econômico, político e institucional que o Brasil vive”, coloca a coordenadora de Projetos de Direitos Humanos do Instituto Ethos, Scarlett Rodrigues Cunha.


“Esse contexto inclui o entendimento da força política e institucional das empresas, que construíram nosso país de uma forma predatória e violenta, colocando o lucro acima das pessoas. Por essa razão, cobramos mais das empresas do que do setor público, já que elas têm mais força institucional, de fala, de espaço de poder e de dinheiro para fazerem a mudança”, afirma.


Conhecer para mudar
Scarlett explica que o trabalho realizado pelo Instituto Ethos inclui o diagnóstico da situação da empresa na agenda de diversidade, equidade e inclusão para que, de fato, ela possa adotar práticas e políticas mais assertivas.


De acordo com ela, investir em projeto social não é ESG. “Social de verdade é geração de emprego com qualidade, é equiparação salarial, é saúde mental, entre tantas outras coisas. Fazemos um esforço cotidiano para colocar as empresas em um lugar de responsabilidade e ter uma conversa muito franca sobre o poder e a possibilidade de mudança que elas têm na sociedade como um todo”.


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