Porto às Cegas: Olhares do mundo em um mar de possibilidades

Projeto permite a deficientes visuais conhecer o Porto em 3D

Por: Ted Sartori  -  07/10/22  -  06:29
Protótipos permitem se sentir dentro do Porto. Sérgio Schina relata montagem da estrutura
Protótipos permitem se sentir dentro do Porto. Sérgio Schina relata montagem da estrutura   Foto: Matheus Tagé

O Porto de Santos é uma espécie de janela para o mundo em razão dos navios de vários países que atracam com cargas e pessoas. Nem todos, porém, têm acesso a esse universo nem a outros tantos, como os deficientes visuais. O Porto às Cegas trata de aproximar esses mundos sob a bandeira da acessibilidade.


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O projeto oferece a experiência de se sentir dentro do Porto, por intermédio de protótipos de navios, que medem 13 centímetros (cm) de largura por 32,5 cm de comprimento, e contêineres. Eles são feitos de propileno em impressoras 3D do Laboratório de Inovação (InovFabLab) da Universidade Santa Cecília (Unisanta). Áudios com todos os sons de navegação e de movimentação de cargas complementam a iniciativa, que foi colocada no local. A vivência ainda contempla a leitura por meio do tato e nas principais partes dos protótipos pelas identificações em braile.


“O ambiente escolhido foi o Porto, justamente por ser um espaço de difícil adaptação e inclusão de pessoas com deficiência visual e por ser elemento fundamental para nossa região e País”, justifica o professor Rafael Pedrosa, idealizador do projeto e diretor de Pós-Graduação e Relacionamento com Empresas da Unisanta. “Enquanto professor, sempre tive uma inquietação muito grande em razão de me deparar, ao longo dos anos, com a impossibilidade de levar o Porto de fato para todos”, emenda.


Em março do ano passado, uma conversa com uma criança com deficiência visual foi o ponto de partida para que o projeto fosse levado a cabo. “Apresentei-me como professor e especialista no setor portuário. No momento seguinte, a ouvi dizer que gostaria de saber como era um porto e o que lá era feito, pois sempre tinham lhe dito que o Porto não poderia ser visitado por deficientes visuais. A partir desse diálogo e do meu anseio por essa inclusão, surgiu a pedra fundamental do projeto, nascendo o Porto às Cegas”, relembra.


Validação e futuro

A validação foi feita dois meses depois do bate-papo, em maio, com a presença de deficientes visuais de diferentes idades.


“Eles nos permitiram dimensionar o alcance do projeto, medido pela felicidade dos participantes em poderem ser integrados a um ambiente até então muito distante da vida deles, tornando-os parte do Porto, até então pouco compreendido por eles”, afirma Pedrosa. “Temos também em proporção igual ou maior a felicidade dos familiares das crianças e adultos deficientes visuais que descobrem um mundo novo pelo toque. Nesse momento, toda a dedicação e o esforço empenhados ganham sentido e o sentimento de dever cumprido prevalece por meio do sorriso no rosto de cada um”, emenda.


Para montar a estrutura, uma pesquisa bem profunda foi realizada, em especial nos principais sites internacionais. “Os equipamentos utilizados foram, basicamente, impressoras 3D, cortadora a laser e software de modelagem 3D. A parte de braile foi feita à mão. As partes foram cortadas em pedaços, e fixamos as peças usando sopradores térmicos, aquecendo e derretendo o plástico para que elas grudassem”, explica Sérgio Schina de Andrade, gerente de laboratório do InovFabLab Unisanta.


O próximo passo do Porto às Cegas já está em curso: o agendamento de visitas em uma plataforma mantida no link.


“Com essa iniciativa, a ideia é ampliar o atendimento, alcançando deficientes visuais de todas as idades”, afirma Pedrosa.


Imaculada com o filho Guilherme, que soube como funciona o Porto
Imaculada com o filho Guilherme, que soube como funciona o Porto   Foto: Matheus Tagé/AT

"Ver com as mãos"

“É a primeira vez que eu vejo um contêiner”. A frase de Guilherme Scorza, de 14 anos e que é deficiente visual, emocionou todos e marcou o pontapé inicial Porto às Cegas. “Foi excelente conhecer um navio e o que tem dentro dele, como os contêineres, que foi o que eu mais gostei”, conta.


Guilherme estava muito curioso em conhecer o funcionamento do Porto. “Sempre ouvia o som dos navios de longe”, lembra o adolescente. Ele deseja que outros conheçam o projeto, “para que todos possam tocar de verdade um contêiner”, e que outros objetos surjam, pois “é a maneira que tenho de conhecer os lugares”.


A secretária Imaculada Scorza, mãe de Guilherme, não escondeu a felicidade por ver a alegria dele. “Foi emocionante saber de um projeto desenvolvido com tantos detalhes. E é de total importância para que ele cresça com confiança e sentimento de igualdade. Não gosto de usar a palavra limite em casa. Prefiro acreditar que ele, assim como qualquer criança, pode, sim. De um modo diferente, mas pode”, comenta.


Projeto Porto às Cegas

O que é: Idealizado em 2021, o projeto Porto às Cegas oferece a possibilidade de se sentir dentro do Porto de Santos para aqueles que são deficientes visuais, por intermédio de um protótipo portuário de navios e contêineres, ambos feitos de propileno em impressoras 3D do Laboratório de Inovação da Unisanta. Áudios com os sons de navegação e de movimentação de cargas complementam o projeto


Onde fica: Laboratório de Inovação (InovFabLab) da Unisanta (Rua Oswaldo Cruz, 277, Boqueirão, Santos)

Contato: (13) 3202-7104


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