ONG de Santos leva alegria e conhecimento com doação de livros para incentivar a cultura

A ideia inicial surgiu na Feira do Livro, realizada na Estação da Cidadania

Por: Ted Sartori, colaborador  -  26/09/22  -  10:56
O projeto não tem sede. Gomes já recebeu mais de 300 pessoas em casa, onde mantém cerca de 1 mil livros
O projeto não tem sede. Gomes já recebeu mais de 300 pessoas em casa, onde mantém cerca de 1 mil livros   Foto: Alexsander Ferraz/AT

As páginas dos livros reúnem histórias que conquistam gerações. E um trabalho com obras literárias tem o poder de provocar o mesmo efeito. Assim é a ONG Leitura na Praça, de Santos, que realiza a doação de livros para levar alegria e conhecimento para as pessoas, incentivando a leitura e a cultura.


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A ideia inicial surgiu na Feira do Livro, realizada na Estação da Cidadania, na Avenida Ana Costa, durante o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro de 2019. “Sempre que ia a essas feiras, percebia que eram sempre as mesmas pessoas e grupos sociais que eu via nos locais para doação de livros em Santos. Como eu tenho vários amigos e amigas professores, mandei a ideia de uma ação com livros, pedindo doações via redes sociais. O resultado positivo foi imediato”, diz o diretor-presidente da ONG, Rodrigo Gomes.


Sempre com livros em casa, Gomes conta que havia mais de 80 títulos parados sem que as pessoas tivessem chance de ler. Era uma forma de disseminá-los. “Assim, queria fazer com que eles circulassem em mais mãos, tirando os livros das estantes, e contar novas histórias com outras pessoas, muitas sem condições de comprar em um sebo por R$ 10,00 ou em uma livraria por R$ 40,00”, justifica. “Como também sou voluntário em causas ambientais, pensei que seria uma boa ideia, pois também estaríamos trabalhando com uma atividade sustentável, aumentando a circulação e a utilização dos livros”, emenda.


Variedade
Para se ter ideia do alcance do Leitura na Praça, que não possui sede, Gomes já recebeu mais de 300 pessoas em casa. Cerca de mil pessoas compareceram a eventos, como o primeiro da ONG, na Praça Nossa Senhora Aparecida, em 2020, poucas semanas antes do início da pandemia de covid-19, e em eventos em empresas particulares, todos em Santos. Também houve atividades no Outubro Rosa, em Guarujá.


“Mais de 10 mil livros foram doados ou retirados. Atualmente, temos aproximadamente mil exemplares em casa, divididos em duas estantes”, detalha.


Todos os gêneros têm uma boa saída, mas romances, obras sobre a doutrina espírita, biografias, títulos sobre autoajuda, marketing e de história geral são bastante procurados. As razões também são diversas: lazer, trabalho, pesquisas e conhecimento em geral.


“O predomínio é feminino: as mulheres são quase 90% do nosso público, e a faixa etária gira entre 25 e 50 anos”, completa.


Futuro
As páginas seguintes do Leitura na Praça indicam, naturalmente, a doação de muitos livros e a realização de novos eventos, aproveitando o fim das restrições causadas pela pandemia, e se unir a outras ações voluntárias para isso.


“Há um outro aspecto sério e preocupante, que nos incentiva nesse projeto. De acordo com especialistas, como a neurocientista (norte-americana) Maryanne Wolf, a leitura em mídias digitais, telas de computadores, celulares e tablets, até mesmo em e-readers projetados para isso, vem perturbando a capacidade cognitiva de imersão nos textos para jovens e adultos. Em outras palavras, de acordo com os estudos, a qualidade da leitura feita nas mídias digitais não se compara com a que obtemos em livros de papel, revistas e jornais”, analisa Rodrigo Gomes.


Miguel Rollo é professor e presidente do Conselho Fiscal da ONG
Miguel Rollo é professor e presidente do Conselho Fiscal da ONG   Foto: Alexsander Ferraz/At

Voluntários
Os livros estão diretamente ligados às vidas de Miguel Galante Rollo e Cínthia Sena. Outra característica comum está na participação na ONG Leitura na Praça. Miguel é presidente do Conselho Fiscal, e Cínthia, voluntária.


Advogado e professor de História para o Ensino Fundamental II no Colégio Universitas, na Ponta da Praia, em Santos, Miguel sabe das realidades distintas de seus alunos e outros tantos jovens com relação aos livros.


“Pela natureza da minha atividade, percebemos que os jovens precisam tomar mais gosto pela leitura. Por ser uma escola particular, nossos alunos têm condições de adquirir livros físicos ou digitais, além de contar com uma biblioteca escolar bastante diversificada. Mas essa não é a realidade da grande maioria dos estudantes do nosso País”, afirma.


Miguel Rollo acreditou no Leitura na Praça porque o projeto facilita o acesso geral a livros, independentemente de idade e situação econômica, indicando as vantagens da leitura no domínio do idioma, na escrita, no aumento do vocabulário e por permitir o exercício da cidadania.


“A experiência como professor vem demonstrando aquilo que estudos recentes vêm indicando: a leitura de livros físicos, revistas e jornais de papel proporciona um conhecimento mais consistente do que aquele pela leitura feita em computadores ou em outras mídias eletrônicas”, constata. “Claro que, se um jovem tem gosto pela leitura, não importa onde ele prefira ou tenha possibilidade de fazê-lo. Mas, como professores, temos a responsabilidade de não deixar os estudantes perderem o interesse pelos livros e outros instrumentos tradicionais e mais acessíveis de difusão da cultura e do conhecimento”, considera Miguel Rollo.


Abrindo portas
A letróloga e pedagoga Cínthia Sena conheceu o Leitura na Praça em uma feira literária em sua cidade, Guarujá, e achou incrível a ideia de existir uma ONG literária. “Afinal, muitos amam ler, porém não possuem muitas condições financeiras para comprar um livro. E me encantou a ideia da ONG de compartilhar conhecimento por meio de uma simples doação de livros. Como sou apaixonada por leitura, decidi ajudar a ONG em seus projetos”, conta.


Na organização, Cínthia declara que pode incentivar mais pessoas a ler e compartilhar conhecimento. “Ler é como abrir portas a vários mundos, nos quais você pode viver vidas diferentes, sentir emoções, conhecer novas palavras e enriquecer seu próprio vocabulário”, afirma. “Mais pessoas deveriam conhecer (o Leitura na Praça). Se nós levarmos o incentivo à leitura, levaremos as pessoas ao conhecimento, e o conhecimento gera pessoas mais sábias intelectualmente”.


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