Encontro recebe mulheres com endometriose e compartilha experiências no litoral de SP

Café EndoTerapêutico é descontraído, mas com psicóloga ou terapeuta analisando casos que necessitam de mais atenção

Por: Ted Sartori, colaborador  -  10/10/22  -  10:05
O Café EndoTerapêutico é promovido pela ONG Associação EndoMulheres Baixada Santista desde 2016
O Café EndoTerapêutico é promovido pela ONG Associação EndoMulheres Baixada Santista desde 2016   Foto: Fabrício Costa

Conversar é bom. Compartilhar experiências, melhor ainda. Principalmente quando elas servem para a recuperação de momentos difíceis. É o caso do Café EndoTerapêutico, promovido pela ONG Associação EndoMulheres Baixada Santista desde 2016 em espaços distintos — e on-line durante a pandemia de covid-19. As integrantes têm endometriose.


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“A ideia surgiu pela necessidade delas de falar e serem ouvidas sem serem julgadas, entendendo a dor da outra e deixando, muitas vezes, a sua dor de lado para ajudar o próximo”, conta Flávia Marcelino, fundadora, presidente da Associação EndoMulheres e que também enfrenta o problema. “Ela se sente protegida e acolhida, criando-se, assim, a sororidade feminina. Que auxilia e muito no tratamento emocional dessa mulher, que sofre dores incapacitantes”, emenda.


O útero é revestido por um tecido — o endométrio — afetado diretamente pelos hormônios, engrossando sua espessura e sendo expelido do corpo no ciclo menstrual. Ele permite, por exemplo, que o óvulo se instale ali para que possa ser fecundado.


Quando esse tecido cresce fora do útero, como nos ovários e na bexiga, há endometriose. Costuma haver abalo emocional por causa do problema e da falta de apoio de pessoas próximas.


“A doença é vista por muitos como uma cólica forte. A mulher é tachada como fresca e fraca, sofrendo preconceito, até de outras mulheres que não conhecem a endometriose. Nos deparamos com mulheres que, durante a pandemia, viram a doença se agravar por falta de atendimento e medo de ir ao hospital. Tivemos casos de depressão e tentativa de suicídio”, revela a presidente da entidade.


As cobranças vão além. “Temos um grupo de mulheres que estão tentando engravidar e, por causa da doença, apresentam dificuldade. Elas nos procuram buscando apoio, porque sofrem cobranças da família e dos amigos, que perguntam: ‘Quando vem o bebê?’ ou ‘Você não acha que está na hora de ser mãe?’. Essas pessoas nem atentam que aquela mulher precisa de incentivo e não de cobranças”, observa Flávia.


O Café EndoTerapêutico ocorre de maneira descontraída, mas com a psicóloga ou terapeuta analisando os casos que necessitam de mais atenção, juntamente com a assistente social. “Vemos mulheres que chegaram à associação deprimidas e sem perspectiva, dando a volta por cima, conseguindo ter qualidade e se ressignificando como mulheres”, afirma.


A faixa etária de quem é atingida pela endometriose é outro aspecto que mudou nos últimos três anos. “Antes, eram entre 25 e 50 anos. Hoje, por causa de outro projeto que criamos, o EndoTeens, temos mulheres mais novas, a partir dos 18 anos”, conta a presidente da ONG Associação EndoMulheres Baixada Santista.


Presente e futuro
Já passaram mais de 500 mulheres pelo Projeto EndoMulheres Baixada Santista. A participação no Café EndoTerapêutico só não é total, porque há assistidas das nove cidades da região e também do Vale do Ribeira.


“Desde 2016, já conseguimos reunir mais de 100 mulheres. E lembrando que, por causa da pandemia, ficamos dois anos sem nos reunir presencialmente, e os encontros foram on-line. Voltamos em julho de 2021, com a vacinação”, relembra a presidente.


Atualmente, de acordo com Flávia, há mais de 600 mulheres que participam dos grupos de apoio da ONG Associação EndoMulheres.


“O Café EndoTerapêu-tico, quando é realizado na casa das endomulheres, conta, em média, com um número de dez a 20 integrantes, salvos os casos em que é realizado em espaços maiores e, por essa razão, a quantidade de participantes é superior”, observa Flávia.


A ONG EndoMulheres tem muitos planos, mas o principal guarda ligação direta com os encontros. “Nossa ideia é ter um espaço exclusivo para isso. Um lugar onde a endomulher possa buscar ajuda terapêutica e psicológica sempre que necessário, além de ser uma referência para ela”, afirma Flávia.


Viviane Novaes menciona troca de experiências e Martha, com endometriose, é terapeuta no grupo
Viviane Novaes menciona troca de experiências e Martha, com endometriose, é terapeuta no grupo   Foto: Fabrício Costa

Histórias
Em cada olhar de uma mulher com endometriose, uma história que emociona. Viviane Novaes, de 38 anos, não cansa de demonstrar gratidão pelos benefícios das reuniões do Café EndoTerapêutico.


“Somos julgadas. É muita dor no emprego, na família e com os amigos. Contudo, nos nossos cafés somos acolhidas e trocamos experiências, o que ajuda bastante. É uma gratidão imensa que eu tenho por todas, e sempre tem gente nova participando, contando suas histórias, e a gente tentando poder ajudar, falando as nossas vivências”, conta.


Amanda Rodrigues de Souza, também de 38 anos, relata que “a gente encontra outras mulheres e descobre que há pessoas que também estão sofrendo, que já melhoraram. Dá um pouco mais de paz e esperança”, lembra. “Por mais que a gente faça tratamentos psiquiátrico e terapêutico, ter contato com pessoas que passam pela mesma coisa que a gente faz toda a diferença”, emenda.


Martha Stringari, de 42 anos, descobriu ter endometriose em 2013. Ela atua como terapeuta, ajudando outras mulheres.


“Naquela época, não tinha informação sobre a doença, e a gente não sabia o que era de fato. Passei por todo o processo de exames até operar, realmente, com a dúvida. Até para o setor de Oncologia me mandaram. Então, não tive apoio psicológico nenhum para passar por esse período. Por isso, consigo observar e vejo o quanto é válido o trabalho. Espero ainda participar por muito tempo de outros cafés, tanto distribuindo quanto recebendo carinho”, afirma.


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