Casa da Esperança de Cubatão usa o caratê como terapia para crianças e adolescentes; VÍDEO

Participantes têm múltiplas deficiências e são de famílias carentes da cidade

Por: Rosana Rife  -  23/11/21  -  12:15
Atualizado em 08/12/21 - 17:17
Por meio do caratê, 130 crianças e adolescentes são assistidos
Por meio do caratê, 130 crianças e adolescentes são assistidos   Foto: Alexsander Ferraz/AT

A ideia era oferecer a prática de esportes para crianças e adolescentes assistidos na Casa da Esperança. A entidade atende cerca de 500 crianças com deficiências múltiplas de famílias carentes em Cubatão. Mas as aulas de caratê ganharam significado maior e viraram uma terapia para eles na volta ao atendimento presencial neste ano.


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Em uma hora, a língua predominante na sala é o japonês. Contar até dez e repetir o nome dos golpes estimulou a curiosidade. Tem criança que adotou um caderno para anotar palavras japonesas e pensa, até, em viajar para a Terra do Sol Nascente, conta a assistente social Fernanda Braga, de 40 anos.


“O objetivo era melhorar a qualidade de vida deles. Muitos estavam acima do peso por causa da pandemia. Mas o retorno está sendo muito melhor do que a gente imaginava.”


O curso é o queridinho na entidade, apesar das dificuldades, pois muitos nem quimono têm. Alguns ganharam o acessório após doação. São 130 crianças e adolescentes na atividade. As aulas, que ocorreriam uma vez na semana, se repetem mais vezes.


O professor Ademir Rodrigues dos Santos, de 40 anos, é o responsável pela repercussão do esporte e virou o mestre e ídolo da garotada — motivo de orgulho para ele. “De maneira nenhuma enxergo isso como ego. Vejo como uma responsabilidade. Faz com que eu monitore ainda mais atos e palavras dentro e fora da instituição, porque sei que tem alguém que vai copiar.”


Ele chegou em maio com a missão de ser professor de Educação Física. O foco era incentivar atividade física que também auxiliasse nas terapias desenvolvidas na Casa da Esperança. Daí, entrou em cena o caratê, e o ritual das aulas e os movimentos dos golpes conquistaram os alunos e apresentaram resultados positivos, “Digo que não trabalho com pessoas com deficiência, porque o meu foco é o movimento e, se o corpo se movimenta, eu não tenho deficiência. É com esse intuito que trabalho, de igual para igual.”


Ana Paula celebra progresso de Felipe Evangelista, que tem 12 anos
Ana Paula celebra progresso de Felipe Evangelista, que tem 12 anos   Foto: Alexsander Ferraz/AT

A pediatra Regina Maria Catucci Gikas também ressalta a importância do esporte. “O exercício é benéfico em qualquer modalidade. Tem a pandemia, e eles engordaram. Há outras questões importantes para nossas crianças, que são treinos de equilíbrio, de postura corporal.”


Fim da Aposentadoria
Ademir Santos havia deixado o caratê há mais de 15 anos, mas retomou os treinamentos por causa dos alunos. “Não imaginava que fosse dar certo e em tão pouco tempo. Voltei a treinar para dar o melhor a eles. O caratê, quando bem aplicado, muda vidas.”


Ezequiel Nascimento nota a evolução de Anny Nascimento, de 11 anos
Ezequiel Nascimento nota a evolução de Anny Nascimento, de 11 anos   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Os Ganhos
A aula de caratê virou um compromisso firme para Felipe Evangelista da Purificação, de 12 anos. Tanto que ele, agora, quer aprender japonês. Só contar até dez e saber de cor os nomes dos golpes aprendidos em sala não são suficientes para o garoto, conta a mãe, Ana Paula Evangelista Matos, de 39 anos.


Felipe é autista e, segundo ela, apesar de curto, o período dedicado ao novo esporte já apresentou resultados. “Ele se desenvolveu muito neste ano. Está falando bastante e interagindo mais com as pessoas. A coordenação também melhorou muito.”


Com autismo leve, Anny Isabelle da Silva Nascimento, de 11 anos, era considerada muito tímida, de acordo com o pai, Ezequiel Nascimento, de 40. Mas, com a prática do caratê, a situação tem se revertido. “Ela interage mais com as pessoas. Está com mais disciplina. Espero que ela se desenvolva cada vez mais. Os pais querem sempre preparar o filho para o mundo.”


Além de estimular mais interação pessoal, o esporte também tem ajudado a deixá-la mais independente. “Antes, ela era mais receosa. Agora, toma mais iniciativas. Faz a lição sozinha, se prepara para ir para a escola. As aulas estão fazendo toda a diferença em casa e na vida dela”, explica o pai.


Maria Eduarda, 13 anos: ela se expandiu com caratê, diz a mãe, Sara
Maria Eduarda, 13 anos: ela se expandiu com caratê, diz a mãe, Sara   Foto: Alexsander Ferraz/AT

A dona de casa Sara Silva dos Santos, de 33 anos, leva a filha, Maria Eduarda, de 13 anos, à Casa da Esperança desde que a adolescente tinha 4. A menina tem autismo, paralisia cerebral leve e TDH.


A entidade tem sido fundamental para o desenvolvimento dela, de acordo com a mãe. Mas, desde o início das aulas de caratê, o desenvolvimento de Maria Eduarda deu um salto. “Ela não falta à aula de jeito nenhum. Em casa, apresenta mais responsabilidade com as atividades, mesmo com suas limitações. Está mais independente”. Para Sara, a nova atividade representa mais uma nova esperança para auxiliar no desenvolvimento da filha. “Ela é minha joia. Faço de tudo por ela”, diz, emocionada.


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