A arte de sonhar e transformar vidas pelo esporte no Litoral de São Paulo; VÍDEO

Instituto Novos Sonhos apoia jovens em Vicente de Carvalho, Guarujá

Por: Ted Sartori  -  03/10/22  -  10:55
Atualizado em 04/11/22 - 15:10
Felipe Ferreira passou a vivenciar a realidade da comunidade, driblou as dificuldades e criou o projeto
Felipe Ferreira passou a vivenciar a realidade da comunidade, driblou as dificuldades e criou o projeto   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Na música, sonhar não custa nada quando o sonho é tão real. Na vida, também pode ser assim e o Instituto Cultural, Social e Esportivo Novos Sonhos, em Vicente de Carvalho, dá exemplos disso. Criado em 2010, o projeto consiste em apoiar as comunidades da Prainha e da Aldeia, retirando as crianças e jovens da rua e dando a oportunidade de crescimento no esporte, com jiu-jítsu e futebol. A entidade também conta com um projeto social voltado ao meio ambiente.


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“Entrei na comunidade com a necessidade de sair do aluguel, superar momento de crise financeira e aproveitar o tempo para poder juntar dinheiro para comprar uma casa em um bairro melhor. Mas comecei a vivenciar a realidade da comunidade, com alto grau de vulnerabilidade, precariedade e insalubridade, além de perceber como o movimento do tráfico envolvia crianças e adolescentes”, conta o presidente Felipe Ferreira.


A primeira ideia de ação junto à comunidade veio com o jiu-jítsu, esporte que Felipe domina por ser faixa preta. “Não tinha um espaço para colocar as crianças. Então, minha família e eu decidimos realizar as aulas na sala de casa, buscando ajuda dos vizinhos e com apoio de uma entidade religiosa”, lembra.


A necessidade fez com que aumentasse o fluxo de interessados - crianças e jovens de 5 a 17 anos, além de outros integrantes da comunidade em outras atividades. O processo desgastou o próprio Felipe e custou até seu próprio casamento. Outra luta, porém, teria de voltar a ser realizada por um bem maior.


“Cheguei a suspender as aulas e pensamos até em desistir do projeto, porém percebemos nesse período que muitos alunos pelos quais tínhamos adquirido carinho se perderam na vida, voltando a conviver com os traficantes locais, pois não havia estrutura familiar para mantê-los bem. A sensação de perder a luta pelo bem-estar deles me fez retornar com o projeto e sonhar com eles novamente. Não aceitava aquela realidade e sempre acreditei que, estando determinado no trabalho e com fé em Deus, sempre dá para conquistar e realizar sonhos”, detalha.


A primeira ideia de ação com crianças e jovens veio com o jiu-jítsu
A primeira ideia de ação com crianças e jovens veio com o jiu-jítsu   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Público
O projeto atende diretamente cerca de 100 crianças nos períodos matutino e vespertino. Além das aulas de jiu-jítsu e futebol, há também leitura, reforço escolar, brinquedoteca e cinemateca. O trabalho é acompanhado por uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogo, assistente social, pedagogo e educador social. “O jiu-jítsu é o esporte mais forte que possuímos, mas o futebol também é muito procurado”, afirma Felipe.


Mais de 1.500 crianças já passaram pelo instituto, vencendo dentro e fora do tatame. “Tornaram-se pais de família, estudando em faculdades federais ou privadas. Existe uma transformação de vidas. Há também uma boa colocação no mercado de trabalho”, conta o presidente. As idades mais recorrentes são de 5 a 14 e 19 anos, além de adultos de diversas idades.


Meio Ambiente e Futuro
O meio ambiente é outro foco importante da entidade. Trata-se da Pedagogia Nós por Nós, uma espécie de ajuda mútua do instituto com a comunidade. “Cada família que atingir 10 kg de plástico, oxil (pó de café usado e cascas de frutas, verduras e ovos) e composto (o óleo) gera um crédito social para entrar na lista da vez para a retirada da cesta básica e demais produtos que conseguimos por parcerias, retirando do meio ambiente esses elementos”, explica.


O trabalho já retirou mais de cinco toneladas de resíduos sólidos - em sua maior parte plásticos - entre 2020 e 2021. Em oito meses deste ano, já foram retiradas mais de quatro toneladas desses materiais, contemplando centenas de famílias com mais de 70 toneladas de cestas básicas.


Os próximos passos da instituição passam diretamente pela continuidade e ampliação de seus projetos. “Que a gente consiga passar por essa ‘Terceira Guerra Mundial’, que é inevitável, e preparar a população para que, ao iniciar esse recomeço pós guerra, a gente consiga recuperar rapidamente o meio ambiente, plantar centenas de milhares de árvores frutíferas em cidades para que as pessoas não tenham fome e que a gente consiga ampliar muito o nosso trabalho com meio ambiente, esporte, fazendo com que o instituto seja a mudança no mundo que todos nós sonhamos”, projeta.


Jovens vivenciam e valorizam batalha diária da instituição


Pode-se dizer que Gabriel Ferreira de Lima Leal, de 22 anos, é um filho pródigo do Instituto Cultural, Social e Esportivo Novos Sonhos. Afinal, ele foi de aluno a professor de jiu-jítsu na entidade - por sinal, seu primeiro emprego.


“Estou aqui há oito anos e me sinto filho da instituição. Gosto muito da família que conquistei ao longo dos anos. Tornei-me faixa preta e me sinto um atleta completo. O instituto me proporcionou, além do conhecimento da arte marcial, o reconhecimento enquanto professor e ainda me levou a campeonatos, tornando possíveis oportunidades que eu não teria”, conta. “Gosto de dar aulas e de estar com as crianças e adolescentes, porque trabalhamos com o desenvolvimento deles, transformando o futuro deles por intermédio do esporte”, emenda.


Gabriel, hoje com 22 anos, diz que é um “filho da instituição”
Gabriel, hoje com 22 anos, diz que é um “filho da instituição”   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Importância
De olho nas dificuldades comuns às comunidades carentes, Gabriel sente que seu trabalho – unido a outros - se reveste de ainda mais importância. “O único Poder Público que as crianças visualizam é a polícia, a falta de educação e de saúde. Os trabalhos ambientais, por exemplo, trazem resultados diante da vulnerabilidade social e da carência, fazendo com que o instituto faça a diferença na sociedade”, explica. O próprio professor é beneficiado com a cesta básica, dentro da Pedagogia Nós por Nós.


Transformação
Há quase uma década no projeto, Mikaela Cristina, de 19 anos, é outra que integra o jiu-jítsu e valoriza o tamanho da luta do Instituto Cultural, Social e Esportivo Novos Sonhos. “Gosto de participar e de estar presente. O esporte é uma ferramenta de mudança e transformação nas vidas de pessoas de diversas idades da comunidade. A conscientização ambiental das famílias e o fortalecimento de vínculos transformam tudo o que é feito em algo fundamental”.


Mikaela está há quase uma década no Instituto Novos Sonhos
Mikaela está há quase uma década no Instituto Novos Sonhos   Foto: Alexsander Ferraz/AT


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