O economista e urbanista Enrique Peñalosa foi prefeito de Bogotá, capital da Colômbia, entre 1998 e 2001. Um raciocínio dele, que foi responsável por uma revolução na cidade em vários setores - dentre eles o dos transportes -, é muito emblemático sobre o assunto: “Se o ônibus transporta oitenta vezes mais passageiros que um automóvel, nos países democráticos o ônibus deveria ter oitenta vezes mais espaço do que o automóvel”.
O pensamento foi trazido para o fórum A Região em Pauta por Sergio Avelleda, professor do Insper, ex-presidente do Metrô SP e ex-secretário de Mobilidade e Transporte da cidade de São Paulo. Para reforçar essa contradição, ele mostrou o desenho da planta de uma casa em que destinava mais espaço para o carro do que para os cômodos e perguntou às pessoas se elas comprariam um imóvel assim, o que foi naturalmente rechaçado.
“Ninguém compraria e nem haveria uma casa assim à venda. Pois é, nós achamos que isso não faz sentido para a nossa casa, mas aceitamos viver em cidades que são desenhadas exatamente assim, onde o espaço para o automóvel é significativa e infinitamente maior do que o espaço para a caminhada, para o transporte público e para as bicicletas”, afirma.
Espaço e clima
O automóvel corresponde a mais do que 35% das viagens, mas o espaço reservado a ele nas cidades é quase de 90%. Para se ter uma ideia, o espaço ocupado por três carros é o mesmo de 28 ciclistas e de um ônibus que leva 82 passageiros. “A média de ocupação dos automóveis na cidade de São Paulo é de 1,1 passageiro por veículo”, calcula Avelleda.
Ainda nesta relação de espaço, 50 pessoas a pé vão precisar de 50 m2. Se estiverem de bicicleta, de 100 m2. Já um ônibus ocuparia 36 m2. Por sua vez, 33 carros que vão transportar algo em torno de 35 ou 36 pessoas vão precisar de 400 m2. “E isso é se estiver parado. A 40 km/h, cada um vai necessitar de 26 m2”, observa o professor do Insper.
O aspecto do meio ambiente também conta e muito. Nos modos de viagem no Brasil, o carro representa 26%, mas responde por 60% das emissões. “Ou seja, se nós não atacarmos também o deslocamento por automóvel vamos aprofundar a crise climática”, sentencia Avelleda.
Ao optar pelo automóvel em vez do ônibus, uma pessoa contribui com 45 vezes mais emissões de dióxido de carbono na atmosfera e 30 vezes mais de monóxido de carbono. “Nós precisamos tomar medidas para adotar combustíveis mais eficientes, melhorar o planejamento territorial e logístico, fazer renovação e manutenção da frota de ônibus e diminuir a dependência dos modos motorizados individuais”, recomenda.