Mais calor e chuva a caminho da Baixada Santista

Estudo prevê maior frequência de eventos extremos ligados ao clima na região no século

Por: Redação  -  05/06/22  -  14:43
Até a metade do século, o sol vai brilhar mais intensamente na hora de curtir a praia, com elevação de 1,5ºC a 2ºC como um todo na região
Até a metade do século, o sol vai brilhar mais intensamente na hora de curtir a praia, com elevação de 1,5ºC a 2ºC como um todo na região   Foto: Matheus Tagé/AT

Quem mora na Baixada Santista vai ter que se preparar para o que o clima está aprontando até, pelo menos, 2050, caso não sejam tomadas atitudes contra o aquecimento global e os gases de efeito estufa.


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A expectativa é que existam mais períodos – e também intensos - de calor e de chuvas, além do aumento da temperatura de 1,5ºC a 2ºC como um todo na região até a metade do século. Isso deve crescer ainda mais na segunda metade do século 21, até 2100, ficando de 3ºC a 5ºC mais quente nos dias que já são extremamente quentes.


As conclusões são do estudo desenvolvido pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado (Sima), com recorte exclusivo para a região, em parceria com a agência alemã Deutsche Gesellschaftfür Internationale Zusammenarbeit (GIZ), dentro do Projeto de Apoio ao Brasil na Implantação da sua Agenda Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (Pró-Adapta).


“Quanto mais extremo for um evento já registrado historicamente, maior será o aumento relativo de sua frequência. Até 2050, eventos com tempos de recorrência de 15 a 10 anos tendem a acontecer pelo menos a cada cinco anos, o que poderá levar à superação de condições limites e operacionais consideradas em projetos de diversas infraestruturas, como sistemas de drenagem, entre outros”, diz o estudo, apresentado pelo pesquisador Pedro Camarinha. Ele também representou o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.


Extremos
A porção sul da Baixada Santista (Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe) terá ondas de calor muito mais frequentes do que historicamente acontecem, em especial na segunda metade do século.


“Para se ter uma ideia, essas ondas de calor aconteceram duas vezes nos últimos 30 anos e as previsões indicam que, na segunda metade do século, isso pode se tornar 10, 20 vezes maior, o que significaria ter uma vez por ano algo assim”, projeta Camarinha. “Até 2050, os eventos serão provavelmente cinco vezes mais frequentes”, emenda.


A previsão é de que as chuvas no verão também sejam mais concentradas. “Você fica mais dias sem chuva durante o verão, tendo aquela impressão que os dias estão mais quentes e o clima está mais seco. Mas, quando vier a chuva, ela vai ser mais concentrada. É como se acumulasse e descontasse, ainda com chance de vir mais água do que se normalmente viesse de maneira espaçada. Isso também contagia as ressacas”, explica o pesquisador.


O estudo mostra ainda que os eventos extremos de chuva aumentarão tanto em magnitude quanto em frequência já nas próximas décadas e, muito provavelmente, vão se acentuar ainda mais na segunda metade do século. Com isso, inundações bruscas, enxurradas, alagamentos, processos erosivos e deslizamentos de terra estão previstas especialmente nas regiões de serra e logo abaixo delas.


“Já fiz apresentações de estudos no Brasil e a gente se sente tocado quando fala que tal região pode ser mais impactada. Isso mobiliza e sensibiliza. Mas é muito diferente de eu falar no próprio território em que vai haver, como Santos e a Baixada Santista”, afirma o pesquisador.


Ressacas tendem a ficar mais intensas

O avanço do mar sobre a faixa de areia em Santos costuma aguçar a imaginação das pessoas, além de despertar outros sentimentos. Não é de hoje que muita gente fica amedrontada ao pensar na possibilidade de a Cidade ficar parcialmente submersa.


O pesquisador Pedro Camarinha avalia essa possibilidade como parte integrante de um dos “cenários mais pessimistas” para o fim do século. “Há quem diga que a partir de 2050 aumenta muito a probabilidade de você ter uma faixa maior atingida principalmente por esses eventos de ressaca, mas dentro da normalidade dos dias com os quais a gente convive na maior parte do tempo isso não está nas previsões pelo menos até 2050, 2070 ou 2080”, afirma. “Dependendo do aquecimento global pode, sim, cobrir parcialmente, mas isso está muito longe. São os cenários mais pessimistas”, emenda.


Camarinha ressalta que, por enquanto, a preocupação está relacionada às ressacas. “Isso pode se tornar mais frequente, alcançando áreas cada vez mais distantes das que comumente conhecemos, mas ficar sempre submersa (a cidade) não é uma dessas preocupações. Isso vai acontecer mais em algumas ilhas, principalmente do Pacífico e que são rasas, em que qualquer aumento de 50 centímetros, por exemplo, pode causar isso. Aqui, por enquanto, não estamos correndo esse risco, mais em eventos extremos”, sentencia.


Crise hídrica?
O pesquisador Pedro Camarinha observou no estudo que pode acontecer um estresse hídrico na região daqui a alguns anos. “Reflete o que vimos em Santos: se no período que chove menos, chover cada vez menos poderá haver desabastecimento, dependendo de como é a infraestrutura local. Por outro lado, na combinação dos períodos secos ocorrendo mais frequentemente e os períodos chuvosos também, a capacidade dos reservatórios seria aumentada”.


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