Indústria perde empregos na Baixada Santista e levantamento preocupa

De 2012 a 2020, redução de vagas formais no setor na região chegou a 15.741 lugares: de 55.340 para 39.599

Por: Redação  -  03/07/22  -  19:46
Polo de Cubatão: salário médio é maior do que no restante do Estado
Polo de Cubatão: salário médio é maior do que no restante do Estado   Foto: Matheus Tagé/AT

A Baixada Santista sofreu queda importante na quantidade de empregos formais em uma década. A redução se torna ainda mais significativa quando o assunto se refere à indústria. Levando em conta o período de 2010 a 2020, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), repassadas anualmente pelas empresas dos setores público e privado, a queda total foi de 4.843 postos (de 374.414 para 369.571).


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Nos empregos formais relacionados às indústrias na Região, baseando-se em um recorte ainda menor de tempo (2012 a 2020), a redução chegou a 15.741 lugares (de 55.340 para 39.599).


“Temos o exemplo clássico do Polo Industrial de Cubatão. Esse segmento foi impactado e havia presença preponderante. Por força de Cubatão, a Baixada Santista, evidentemente, sofreu esse impacto”, afirma Rodolfo Amaral, jornalista especializado em Gestão Pública e analista de dados. Rodolfo apresentou minuciosa radiografia do emprego na região na última década, com base em dados oficiais.


A representatividade percentual da Baixada Santista em empregos na indústria do Estado de São Paulo caiu de 1,57% em 2010 para 1,37% uma década depois. “A curva para baixo foi muito mais acentuada do que o Estado, que também caiu na participação de empregos no setor nesse período – mais especificamente 619.020”, observa o jornalista.


Salários e aposentadorias
Por outro lado, o salário médio pago na indústria da Região curiosamente é maior que o do ramo no Estado: R$ 5.366,00 contra R$ 3.793,00.


“Temos uma refinaria (da Petrobras) que paga salários elevados, a própria Usiminas, ou seja, o perfil de indústria da Baixada exige um profissional mais qualificado e, por consequência, o salário médio dele é maior. Ou seja, tivemos uma queda brutal de empregos exatamente no segmento que paga melhor”, analisa Rodolfo. “Como ele gera a maior massa salarial, isso evidentemente reflete na economia porque a circulação, o volume de recursos é menor no consumo em geral por força disso”, analisa.


O número de aposentadorias – de maneira geral na Baixada Santista – também cresceu em uma década: de 151.867 em 2010 para 204.690 em 2020. Isso, no entanto, não significa empregos gerados – em alguns casos, recolocação, no caso da vaga não ter sido extinta.


MEIs e serviços
O registro de microempreendedores individuais (MEIs) teve uma elevação vertiginosa em pouco mais de uma década – ver números na página D-5 –, em um movimento detectado não apenas na Baixada Santista, como no Estado de São Paulo e em todo o Brasil.


“O trabalhador formal, com carteira assinada, custa para o empregador o dobro do que ele recebe. Ou seja, se tem um salário de R$ 2 mil, para a empresa sai por R$ 4 mil. A figura da pessoa jurídica é antiga, mas essa transformação com legislação incentivada fez com que virasse uma febre”, explica Rodolfo Amaral.


Segundo o Portal do Empreendedor, houve crescimento de 37,6% na região durante a pandemia. Neste semestre, o percentual de subida já chegou a 17%, também de acordo com a mesma fonte, em números trazidos por Marco Aurélio Rosas, gerente do Sebrae-SP na Baixada Santista.


Dentre as atividades ligadas ao setor de serviços que viraram MEI, um dos destaques na Região vai para a de cabeleireiro. Em 2020 foram 13.816 registros nas nove cidades da Baixada, sendo que a maior quantidade em Santos – 3381, de acordo com dados mostrados por Rodolfo Amaral, do escritório Data Center Brasil.


Pouco espaço
O mercado de trabalho na Baixada Santista possui perspectivas na visão de Rodolfo Amaral, mas que acompanham um fator limitador: pouca disponibilidade territorial para expansão, a não ser vertical.


“A Baixada Santista, com suas nove cidades, tem apenas 0,95% do território do Estado de São Paulo, com 2.373 km2 de extensão. Só que um terço disso é a Serra do Mar. Portanto, não se pode ocupar. Outro terço está protegido por legislações ambientais municipais, estadual ou federal. Assim, está na mesma condição. Do terço que sobra, temos 95% ocupado”, afirma o jornalista especialista em Gestão Pública e analista de dados.


O percentual restante (5%) é algo em torno de 145 km2. Ou seja, para se ter uma dimensão do que isso representa, é algo em torno do tamanho do município de Guarujá.


“Não é uma extensão territorial que permitiria, por exemplo, a instalação de plantas industriais ou coisas do gênero. Não em abundância. Temos alguns pontos específicos que teremos de ter a sabedoria de explorar”, argumenta Rodolfo.


Comparação
Para se ter um elemento de comparação, a região administrativa de Sorocaba, que possui 49 cidades subordinadas, tem 45 mil km2. Cumprir o trajeto de uma cidade até a principal demora de duas a três horas.


“Hoje o mercado de trabalho ainda está muito concentrado na Região Metropolitana de São Paulo. O Estado tem que rever seu planejamento”, afirma Rodolfo.


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