Circularidade do plástico está ociosa; Há excesso de tributos e inadequação dos materiais

Representante da Abiplast diz que problemas fazem empresas ficarem ociosas e produzirem abaixo das possibilidades

Por: ATribuna.com.br  -  31/03/24  -  16:25
  Foto: Adobe Stock

Apesar do uso em grande escala do plástico, a indústria de transformação deste material, que o reaproveita e o recoloca no mercado, está ociosa. Esta afirmação é da assessora técnica da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Simone Carvalho Levorado Fraga. De acordo com ela, entre os problemas que deixam as operações, por vezes, inativas estão a carga tributária e a má condição dos itens coletados.


Clique aqui para seguir agora o novo canal de A Tribuna no WhatsApp!


Ao longo de sua exposição, a especialista disse que as empresas do setor têm capacidade de gerar 2,3 milhões de toneladas de resíduos. No entanto, os locais não conseguem atingir seu nível máximo, e parte deste cenário é de responsabilidade da sociedade, que não segrega os objetos de forma adequada.


“Não temos resíduo de qualidade para trabalhar (...) Quando o material chega com sujidade ou misturado, não se faz milagre. Isso vira rejeito da recicladora”, explicou, mencionando que, no ano passado, a indústria reciclou 1,1 milhão de toneladas de plásticos, com faturamento de R$ 4,7 bilhões.


Além disso, surge também o obstáculo financeiro. Simone afirmou que as taxas cobradas pelo poder público não incentivam o trabalho das companhias deste segmento.


“O material já pagou sua carga tributária quando virgem, e ele paga de novo a mesma taxa (quando reciclado). Aí, inviabiliza o processo”, frisou.


A assessora técnica da Abiplast falou, ainda, que o Brasil perde muito por conta dos impostos cobrados. “As máquinas estão instaladas, mas temos a parte tributária, que pesa demais. O incentivo à reciclagem é um instrumento da Política Nacional de Resíduos Sólidos que não é seguido. Se a indústria fosse incentivada, geraria aumento de impostos, postos de trabalho, material reciclado e economia circular”, lamentou a convidada do fórum.


Simone considerou que uma solução para este quadro deve partir do governo federal e não das demais esferas do poder. “Alguns estados têm incentivo, mas teria de ser (uma medida) nacional”.


  Foto: Adobe Stock

Compostagem é uma das soluções apontadas no fórum

A compostagem deve ser estimulada. Esta é a avaliação de participantes de A Região em Pauta. Para eles, o aproveitamento de material orgânico tem diversos benefícios, entre os quais está a redução do desperdício de comida.


A diretora de Inovação e Negócios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Cláudia Teixeira, foi uma das pessoas que se manifestaram sobre o tema. A especialista foi muito clara ao afirmar que a população joga fora grande parte de seus alimentos.


“Nosso desperdício é assombroso como sociedade. Em média, colocamos para fora de casa metade do que precisamos de calorias por dia”, destacou.


Os números comprovam que, de modo geral, as pessoas descartam muitos mantimentos. Segundo o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), 45,30% do que é descartado é comida.


Por isto, a profissional do IPT disse que o brasileiro precisa reduzir a quantidade de materiais orgânicos desprezados e efetuar a separação adequada antes de os itens serem colocados na lixeira. O coordenador da Câmara Técnica de Meio Ambiente do Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista (Condesb), Marcos Libório, concordou.


“Quanto mais se mistura, menor a gente traz capacidade de compostagem e de reciclagem. Perdemos dos dois lados. Precisamos de segregação, começando de casa, para organizar melhor a sociedade e ter respostas do poder público”, sentenciou, reforçando que os indivíduos devem se acostumar a separar os objetos que vão para o lixo.


Aliás, se isto acontecer, aumentam as chances de o material ser reabsorvido pelo mercado. “A compostagem faz parte de uma das estratégias. Os resíduos orgânicos podem ser transformados em fertilizantes e serem devolvidos ao meio ambiente e comercializados”, frisou Libório.


Nos municípios da região, coleta seletiva não avança

Nenhuma das cidades da Baixada Santista registra índice crescente de coleta de lixo reciclável. Na verdade, o que se percebe é uma oscilação na quantidade de resíduos recolhidos. Isso se dá mesmo com todos os municípios oferecendo algum sistema de recebimento de material reaproveitável.


A Tribuna perguntou a cada uma das nove administrações municipais da região quais eram os indicadores dos últimos três anos em termos de coleta seletiva. Somente sete delas responderam.


Destas, Santos é a que mais recolhe resíduos. Só no ano passado, foram 16.231 toneladas. Esta marca é menor do que a de 2022, quando foram captados 19.076, e maior do que a de 2021, ano em que foram registradas 10.154.


Guarujá, por sua vez, melhorou seu resultado de 2021 para 2022, saindo de 2.339,24 toneladas para 2.428,50. Apesar disso, a estatística despencou na sequência, passando a 1.600 no ano passado. A prefeitura justificou esta queda, afirmando que os números “estão defasados em razão do descredenciamento de uma das cooperativas no município, que deixou de fornecer os dados”.


Praia Grande ensaia uma melhora. A cidade conseguiu, em 2023, coletar 1.553,67, após redução acentuada de 2021, quando retirou das ruas 1.713,52, para 2022, que teve 1.182,77.


Itanhaém viveu cenário similar ao praia-grandense. A localidade afirmou ter recolhido 229, 166,9 e 175,7 toneladas respectivamente.


Cubatão retirou das ruas, em 2021, 144 toneladas. Depois, houve a paralisação do serviço, que voltou a funcionar em abril de 2023. Dali até o fim do ano citado, 173.439 quilos foram coletados.


Já São Vicente se limitou a informar que “os números indicam a melhora no índice de eficiência da separação dos munícipes” e que “o percentual médio de abrangência da coleta seletiva em relação à domiciliar é de 2%”.


Com relação a Peruíbe, ao invés de comunicar a quantidade de resíduos reutilizáveis que foi recebida, a administração local falou a respeito de comercialização de materiais. “Em 2022, foram vendidos 27.599,23 quilos, enquanto, em 2023, esse número saltou para 122.401,27 quilos”.


Bertioga e Mongaguá não encaminharam seus índices até o fechamento desta edição.


Melhora passa por educação ambiental para crianças

Durante A Região em Pauta, em diversos momentos, os convidados falaram sobre a importância de se educar, ambientalmente, a população como um todo. Entretanto, o fundador e coordenador da Cooperlínia Ambiental do Brasil, José Carlos da Silva, disse que esforços devem ser direcionados ao aprendizado das crianças. Isso porque elas podem ajudar a mudar o presente e também o futuro.


Antes de apontar os pequeninos como parte da solução para um mundo que recicla mais, o especialista reiterou que existe um problema cultural, no qual todo sistema de reaproveitamento de materiais esbarra. Afinal, a falta de separação do lixo, aliada aos baixos índices de reciclagem e aos obstáculos da logística reversa, está espalhada ppelo país.


Segundo Silva, este cenário só vai mudar por meio da educação, que é mais bem absorvida por crianças. Aliás, em Paulínia, no interior de São Paulo, cidade onde está instalada sua cooperativa, os frutos do trabalho com os pequeninos já são colhidos.


“Quem traz o maior volume de material para as escolas ou a cooperativa são as crianças, que, hoje, são os maiores agentes ambientais. A criança compromete, no mínimo, dez pessoas. Ela compromete vizinhos da esquerda, da direita, a mãe…”, declarou, ressaltando que os meninos e as meninas incentivam as pessoas próximas a reciclar.


Apesar disso, o coordenador da Cooperlínia Ambiental fez uma ressalva. Embora haja algum efeito prático rápido ao ensinar garotos e garotas, uma mudança, a nível de sociedade, leva tempo. “A solução não é em curto prazo”.


O que é?

Segundo a Lei 9.795/1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, “entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.


Logo A Tribuna
Newsletter