Os oceanos parecem algo distante de boa parte do mundo. No entanto, a história não é bem assim. O conceito para a definição dessa proximidade leva em conta os primeiros 100 km da linha da água. Desta forma, a área costeira no Brasil corresponde a 4% do território. Por sua vez, 25% dos brasileiros residem em locais com essa característica. Em todo o globo, a porcentagem chega a 42%.
“Nós da Baixada somos um exemplo disso. Ecossistemas naturais foram sendo removidos, as restingas e os manguezais, e substituídos por prédios que também ajudam a poluir o ambiente”, afirma Ronaldo Christofoletti, professor e pesquisador do campus Baixada Santista da Unifesp. “Vemos a Ponta da Praia e a Zona Noroeste das palafitas sendo invadidas pela água. Mas quem primeiramente invadiu o quê? É o oceano que está invadindo ou talvez nós invadimos um pouco um espaço que não nos pertencia?”.
O comportamento dos mares passa diretamente pelas mudanças climáticas. E não se manifesta apenas na quantidade e intensidade das ressacas.
“A responsabilidade de absorver o carbono está em um oceano saudável. Quando isso se degrada, também tira esse balanço da retirada de gás carbônico da atmosfera. Se existe alguma alteração nas correntes do mar, o processo ganha uma complexidade maior. Se nós vivemos em um forno, os continentes são a comida, em cozimento em banho-maria. Essa água que dá estabilidade é o oceano. Se isso se altera, tudo vai por água abaixo”, exemplifica.
Christofoletti lembra que estudos têm mostrado que os peixes estão migrando para locais em que a água é mais fria, pois ela aqueceu muito na região tropical. E não é só. “Nossa urbanização costeira joga mais poluentes nessa água mais próxima da costa. Isso é em todo o mundo e não apenas na Baixada”, completa.
Todos esses fatores somados causam o afastamento dos recursos pesqueiros das regiões mais próximas ao mar, argumenta o professor da Unifesp. O quadro causa problemas econômicos e até alimentares em alguns locais do mundo, como na África, em que os peixes são a segurança deles nesse quesito, fazendo os ainda mais dependentes da atividade.
“Se aquele peixe está 100 quilômetros para fora, significa que o pescador, principalmente o tradicional, precisa de um barco que o leve para mais longe”, observa Christofoletti, recordando também do conflito entre as pescas artesanal e industrial. “Estamos mudando não só o impacto dos peixes e a água. Estamos mudando a cultura das populações que vivem e dependem dessa relação”, sintetiza.
Economia Azul
O azul do mar também possui o conceito de antigo e novo, mas com relação ao potencial econômico. É o que explica Angélica Rotondaro, diretora executiva da Alimi Impact Ventures, consultoria focada em trazer escalabilidade para o investimento sustentável no Brasil, e diretora-executiva do Climate Smart Institute.
“As iniciativas envolvendo pesca, transporte marítimo e indústrias de óleo e gás são as que chamamos de economia azul antiga. Já a nova é o que você tem de oportunidades para aproveitar a energia cinética, a partir das marés, para geração de eletricidade. Ou a bioeconomia azul, onde se aproveitam algas em questões nutricionais. É algo bastante explorado no mundo e, no Brasil, em Santa Catarina”, afirma.
Evento
Em meio à década dos oceanos, anunciada pela ONU no ano passado e que vai até 2030, Santos recebe em outubro o evento Diálogos da Cultura Oceânica, organizado junto com a Unesco e a própria ONU. A intenção é mostrar o conceito disso e como influencia na vida de cada um.