
Para Fábio Mesquita, a distribuição dos leitos da região não é a ideal; Domingos Napoli confirmou que a demanda é maior do que a oferta (Alexsander Ferraz/AT)
A Baixada Santista tem menos leitos do que o ideal para atender sua população. A região não possui nem duas vagas de internação para cada mil cidadãos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que a quantidade seja de três a cinco pelo mesmo número de indivíduos.
Atualmente, conforme levantamento feito pelo Data Center Brasil (DCB) a pedido de A Tribuna, existem 1.834 leitos públicos (SUS) na região. Já o número de habitantes, de acordo com o Censo do ano passado realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 1.862.976 pessoas. Ao dividir o total de moradores pelo de vagas hospitalares SUS, nota-se que a média de espaços para internação é de 0,984 por mil indivíduos.
Este valor sobe se forem incluídos na conta os locais que não integram o sistema público — hoje, existem 1.376 vagas deste tipo, totalizando 3.210. Neste caso, a média vai a 1,72, permanecendo abaixo do recomendado pela OMS.
Distribuição por cidades
Outro dado que chama atenção é a divisão das vagas entre os municípios. Do total, Santos conta com 1.746 leitos, ou seja, 54,4% da quantidade regional. Destes, 733 são do SUS.
Na sequência, surgem Guarujá, com 448, e Praia Grande, que tem 380. Respectivamente, da quantia geral, as duas localidades possuem 346 e 218 vagas públicas. Ainda, São Vicente disponibiliza 283 (191 são do Sistema Único).
A cidade com o menor montante é Peruíbe. Lá, encontram-se 18 vagas.
Ponderação
Diante destes indicadores, o secretário guarujaense de Saúde, Fábio Mesquita, afirmou não concordar com a forma como as vagas foram separadas por localidades. “A gente deve pensar em termos de equidade, porque alguns dos municípios, como São Vicente e Guarujá, têm 80% da população dependente do SUS. Santos tem uma situação mais privilegiada, com cerca de 50% dos leitos. Só que uma parte da população santista tem plano de saúde. Nas cidades onde a desigualdade social é maior, temos uma pressão muito maior”.
Exames e procedimentos
Fábio Mesquita destacou que a quantidade de leitos não é o único problema. Na avaliação do gestor, outra dificuldade é que existem procedimentos que não podem ser realizados na região. O especialista citou exemplos de atendimentos que não são prestados aqui. “Endovascular: uma pessoa que tenha algum problema vascular mais sério, que precise de algum procedimento, não tem aqui. Algumas das cirurgias cardíacas não temos. Se você precisar de um imunologista, não há”. Segundo ele, a mesma dificuldade é vista em relação a exames. “Colonoscopia pediátrica, não encontramos na região, assim como polissonografia, uma tomografia ou uma ressonância magnética com sedação”.
Governo reconhece falta de vagas
A falta de vagas hospitalares é reconhecida pelo Governo do Estado. Presente no fórum A Região em Pauta, Domingos Guilherme Napoli, que é gerente da Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross), setor que intermedia o acesso a leitos e atendimentos, confirmou que a demanda é maior do que a oferta.
O gestor foi direto: “Independentemente dos mil e poucos leitos presentes aqui, na região, a necessidade real seria de muito mais”.
Ele não fez tal afirmação somente uma vez ao longo de sua participação no evento. Em outro momento, o especialista reiterou seu posicionamento, confirmando que, “realmente, há uma demanda muito maior do que a capacidade de atendimento”.
Mesmo diante deste cenário, o gerente defendeu o sistema usado pela Secretaria Estadual de Saúde. “A regulação surge da necessidade, pois você tem dez possibilidades de atendimento e 30 ou 40 pessoas precisando daquele serviço”.
Sobre a atuação do Cross, o convidado do fórum também afirmou que a Central age de acordo com o que é definido pelas cidades de cada região do Estado. Desta forma, a distribuição de leitos não depende do sistema, já que este “só executa o que é pactuado” pelos municípios.
“O sistema faz esta regulação de acordo com a oferta que nos dão em cada local. Nós vamos trabalhar com isso”, declarou Napoli.
Por fim, o especialista falou a respeito da reclamação de parte da população, que alega que o Cross demora para disponibilizar vagas — em Guarujá, uma cirurgia ortopédica pode levar anos para ser realizada. Neste ponto, ele disse que tal dificuldade realmente existe e que o sistema tenta sempre priorizar casos mais graves.
DISTRIBUIÇÃO DE LEITOS
A distribuição de leitos hospitalares na Baixada Santista apresenta grandes desigualdades entre os municípios. A seguir, a quantidade total de leitos, os destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e os que não pertencem à rede pública, por cidade:
- - Bertioga possui 49 leitos no total, todos do SUS.
- - Cubatão conta com 109 leitos, todos também vinculados ao SUS.
- - Guarujá tem um total de 448 leitos, sendo 346 do SUS e 102 da rede privada.
- - Itanhaém dispõe de 141 leitos, dos quais 137 são públicos e 4 não pertencem ao SUS.
- - Mongaguá oferece 36 leitos, todos públicos.
- - Peruíbe apresenta 18 leitos no total, sendo 15 do SUS e 3 não SUS.
- - Praia Grande possui 380 leitos, com 218 do SUS e 162 da rede privada.
- - Santos concentra o maior número: 1.746 leitos, sendo 733 públicos e 1.013 privados.
- - São Vicente tem 283 leitos, dos quais 191 são do SUS e 92 são privados.
No total, a Baixada Santista conta com 3.210 leitos, sendo 1.834 do SUS (57,14%) e 1.376 não SUS (42,86%).
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