
( Foto: Pixabay )
Podem falar o que for, mas o futebol é uma fonte inesgotável de divertimento. Nem sempre pelo que se dá entre as quatro linhas.
Nos últimos dias, em meio a debacle da nossa seleção, não faltaram bons exemplos do que digo. Lembremos algumas frases ditas no calor do momento, por exemplo. A de Gabriel Jesus dizendo que o gol não era o forte dele. Por mais que o futebol atual e seus esquemas táticos tenham ditado outras funções, a um camisa 9 não deixa de ser lapidar.
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Ou a dita pelo lateral Emerson Royal, classificando o esquema do treinador do escrete nacional de algo muito difícil de ser executado. E o cara joga em uma Liga famosa pela excelência técnica.
Ou a de Mourinho sobre Ancelloti, afirmando que só um louco deixa o Real Madrid. E a do Ancelotti ontem, dizendo que concorda com o que disse o português. Boas demais, não?
Outra coisa que me chamou a atenção: a vaia. Algo que a nossa seleção parece ter despertado. E ouvida também ao fim do empate do Botafogo com o Santos. Sempre cruéis, não há dúvida. Não por acaso, soaram pela primeira vez durante as execuções na Grécia antiga, onde o espectador passou a usá-la quando achava que o que estava vendo não merecia aplausos. De onde é possível concluir que o torcedor brasileiro tem sido até muito condescendente com o futebol que anda vendo.
Em geral, quando pinta na área o circo já pegou fogo. Prova disso é que uma das vezes em que um jogador conseguiu a façanha de transformar uma vaia em aplauso fez do momento uma página inesquecível. Caso de Julinho Botelho em maio de 1959, quando a seleção brasileira entrou em campo para comemorar a conquista da Copa no ano anterior e os alto falantes do Maracanã anunciaram que ele ocuparia o lugar de Garrincha, barrado por estar acima do peso, dizem. A estrondosa vaia teria sido ouvida pelo ponta-direita ainda no vestiário e ele, ao ouvi-la, teria prometido a Nilton Santos jogar muito. E jogou. Com 2 minutos de jogo fez o primeiro gol do Brasil no amistoso contra a Inglaterra, deu passe para o segundo, seguiu brilhando e saiu de campo aplaudido de pé. Até hoje há quem diga que se tratou de uma das maiores apresentações individuais da história do nosso futebol. O que quase ninguém lembra é que Julinho, que tinha estado com a seleção no Mundial anterior, era pra estar também em 1958. Ocorre que depois de ir muito bem em 54, acabou negociado com a Fiorentina, time com o qual conquistaria um inédito Campeonato Italiano. Àquela altura, Julinho tinha fama e a experiência de três temporadas passadas na Europa. Teria ocupado o lugar de Garrincha. Isso mesmo. Pois o titular era Joel, do Flamengo.
Talvez os mais novos nem acreditem. Mas não teço aqui uma peça de ficção. Julinho recusou o convite. Alegou que não seria justo jogar uma Copa no lugar de quem estava no Brasil. E, ao contrário do que se ouve muito por aí, durante a Copa ninguém pediu pra que Garrincha fosse escalado. No primeiro jogo era preciso um ponta que atuasse recuado. Não era o caso do Mané. E na segunda partida, por mais que tenha sido avisado que não deveria segurar a bola porque o tal de Stanley, o lateral inglês, era violento e desleal, Joel deu mole. Levou uma botinada e ficou às voltas com o departamento médico. E se Garrincha acabou escalado contra os temidos soviéticos, foi porque a estratégia brasileira era ser ofensivo desde o início.
É, já não se ousa mais como antigamente. Mas a vaia e o aplauso continuam tendo rigorosamente a mesma alma.
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