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TRIBUNA LIVRE

Balzac apaixonado

Considerando-se os relatos de Balzac, citados na biografia escrita por Stefan Zweig, trata-se de uma história intensa, repleta de juras de amor, comuns à do jovem casal da tragédia shakespeariana

Lucius de Mello*

14 de junho de 2025 às 06:48Modificado em 14 de junho de 2025 às 06:49
(Reprodução/ X)

(Reprodução/ X)

All is true, escreve o realista Honoré de Balzac, parodiando Shakespeare, na epígrafe das primeiras edições de O Pai Goriot, romance no qual, segundo muitos balzaquistas, o escritor francês cria o seu Rei Lear parisiense. Porém, as alusões ao dramaturgo inglês extrapolam a ficção.

Na vida real, Balzac vive um amor tão e até mais arriscado que o de Romeu e Julieta. Ele se torna amante de uma leitora ucraniana casada e, com ela, se aventura num relacionamento clandestino embaixo do nariz do marido da amada: um rico e poderoso barão da aristocracia russa. Até no castelo no qual o adversário morava com a mulher e os filhos, Balzac se hospeda sem que o esposo traído suspeitasse de nada.

Considerando-se os relatos de Balzac, citados na biografia escrita por Stefan Zweig, trata-se de uma história intensa, repleta de juras de amor, comuns a do jovem casal da tragédia shakespeariana: “estou inebriado pelo teu aroma suavíssimo, e, se te houvesse possuído mil vezes, ver-me-ias ainda mais inebriado”, escreve o romancista emprestando a voz de Romeu.

Honoré de Balzac (1799-1850) e Madame Hanska (1801-1882), também chamada de Eve, viveram um dos romances epistolares mais longos e famosos da história da Literatura. Balzac escreveu 400 cartas à amada durante 18 anos.

As cartas de amor escritas por Balzac foram organizadas e publicadas em dois volumes nomeados Cartas à Estrangeira (Lettres à l’Étrangère). Aliás, “A Estrangeira - A Desconhecida” foi o codinome usado por Eve Hanska nas primeiras mensagens que escreveu ao romancista. Segundo Stefan Zweig, Eve precisava do anonimato porque era casada com o barão russo-polonês Venceslau de Hanski, quase 25 anos mais velho que ela.

Em 28 de fevereiro de 1832, Balzac recebeu a carta inicial. Eve se apresentava como leitora dos romances dele, o elogiava e fazia críticas aos seus livros. Antes de receber a quarta carta Balzac já se declara apaixonado: “Amo-a, desconhecida!” Mesmo casada, Eve convence o marido a fazer viagens de férias com a família à Suíça para conseguir se encontrar com o amante. O casal se conhece, pessoalmente, na cidade de Neuchâtel. Houve outros encontros em Genève e aquele que fez Balzac viajar de carruagem, durante meses, da França até a Ucrânia e se hospedar no castelo do ingênuo barão Venceslau de Hanski.

Só depois que fica viúva, madame Hanska decide se casar com Balzac, se mudar para a capital francesa e, finalmente, pôr um ponto final nos 18 anos daquele romance epistolar. Porém, o seu Romeu, já gorducho, cinquentão e doente, parecia mesmo destinado a ter um destino trágico no amor. Cinco meses após o casamento, realizado numa capela na Ucrânia, Honoré de Balzac morre em Paris, segundo os médicos da época, vítima de problemas no coração.

*Doutor em Letras, autor da tese “A Bíblia segundo Balzac: Deus, o Diabo e os heróis bíblicos em A Comédia Humana”, jornalista, escritor e finalista do Prêmio Jabuti em 2003

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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