
(Pixabey)
Negligenciar o investimento em software pode transformar qualquer avanço tecnológico em um desperdício caro e ineficiente. No setor portuário não é diferente e especialmente após a incrível experiência da Missão Internacional Porto & Mar Brasil - Coreia do Sul 2024, organizada pelo Grupo Tribuna, eu gostaria de compartilhar minha experiência sobre este delicado assunto.
No contexto das operações portuárias, os termos green field, brown field e gray field descrevem diferentes abordagens para o desenvolvimento de projetos de infraestrutura. Uma operação green field envolve a construção de uma nova instalação a partir do zero, em um local onde não há infraestrutura pré-existente. Este tipo de projeto permite maior flexibilidade no design e na implementação de tecnologias modernas, mas requer um investimento inicial significativo e um tempo de execução prolongado. Em contraste, uma operação brown field se baseia na modificação ou atualização de uma infraestrutura existente. Embora exija menos investimento inicial e tempo de execução, ela pode ser limitada pelas restrições da estrutura atual. Já uma operação gray field, ou híbrida, combina elementos de ambos os cenários, aproveitando parte ou toda uma infraestrutura existente em uma operação totalmente nova. Esta abordagem busca o equilíbrio entre aproveitar ativos existentes em uma estrutura renovada.
Tive a oportunidade de atuar na implantação e integração de sistemas em todos esses cenários e posso afirmar que iniciar uma operação portuária sem um sistema robusto é um desafio tremendo. Em operações green field, a ausência de um sistema pode resultar em falhas na coordenação de atividades desde o início, dificultando a implementação de processos eficientes e integrados. Em operações brown field, a falta de um sistema robusto pode agravar as limitações da infraestrutura existente, levando a ineficiências operacionais e dificuldades na adaptação a novas tecnologias. No cenário gray field, onde se busca modernizar e aproveitar ao máximo a infraestrutura existente, a ausência de um sistema integrado pode causar problemas de compatibilidade e dificultar a harmonização de novos e antigos processos.
Paradoxalmente, muitas vezes se dá pouco valor ao software em comparação aos gastos com equipamentos e infraestrutura física. Esta abordagem pode ser extremamente perigosa. Enquanto infraestrutura e equipamentos são vitais para a operação diária, o software é a espinha dorsal que integra todas as partes do sistema, garantindo a eficiência e a conformidade regulatória. Sem um software robusto, a operação fica vulnerável a erros manuais, atrasos na comunicação com órgãos governamentais e inconsistências de dados, que podem resultar em multas e prejuízos financeiros significativos.
Para uma empresa que está iniciando uma operação portuária em um cenário green ou gray field, é preciso investir na implementação de um sistema robusto desde o início. Isso inclui a escolha de um Terminal Operating System (TOS) eficiente que possa integrar-se facilmente com outros sistemas críticos, como os de controle de acesso, monitoramento de contêineres e gestão documental. Além disso, é importante treinar adequadamente o pessoal para utilizar esses sistemas, garantindo que todos os processos sejam executados de forma eficiente e conforme as regulamentações.
Já em cenários brown field, em que a readequação da operação é necessária, a empresa deve começar com uma avaliação completa da infraestrutura e dos sistemas existentes. Identificar pontos fracos e áreas que precisam de modernização é o primeiro passo. Em seguida, a empresa deve investir em soluções de software que possam se integrar aos sistemas existentes, proporcionando melhorias graduais sem a necessidade de uma reformulação total imediata. Adotar uma abordagem faseada pode ajudar a minimizar interrupções nas operações enquanto se implementam melhorias significativas.
Em qualquer cenário, o planejamento estratégico e a valorização do software são fundamentais para o sucesso da operação. A integração de sistemas robustos não apenas melhora a eficiência operacional, mas também garante a conformidade regulatória e a capacidade de responder rapidamente às demandas do mercado.
Em resumo, a transformação digital vai além da simples implementação de novas tecnologias; ela exige uma mudança de mentalidade em toda a organização. Está absolutamente claro que as empresas devem reconhecer a importância de investir em software, desenvolvimento e integrações em tempos modernos. Ignorar essa necessidade pode resultar em operações ineficientes, prejuízos financeiros e uma perda significativa de competitividade. Não adianta gastar milhões em guindastes se não houver sistemas robustos para maximizar o uso dessas máquinas e garantir a máxima produtividade do pessoal. Investir em tecnologia não é um luxo, mas uma necessidade fundamental para garantir operações portuárias eficientes e eficazes, e para manter-se competitivo no cenário global.
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