'A cidade que eu quase nasci'

Parabéns, Santos, nessa data querida

Por: Renê de Moura  -  26/01/22  -  14:24
Parabéns, Santos, nessa data querida
Parabéns, Santos, nessa data querida   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Meu pai nasceu e cresceu em Santos.

Mas por um descuido dele, eu não nasci aqui.

Na tentativa de ficar rico, ele foi trabalhar em Santo André.

Conheceu minha mãe.

Casou.

Teve três filhos.

Coincidentemente são meus irmãos.

Juro.

Sou bem mais bonito, mas são meus irmãos.

Já casados, papai e mamãe foram para São José dos Campos onde, numa noite inspirada e embalada por “Its Now Or Never”, de Elvis Presley, deram início ao meu processo de fabricação, cometendo o pecado original. Ôw. Não precisa imaginar essa cena.


As coisas não deram certo e eles voltaram pra cá com 4 filhos.

E, assim, não tenho a cidade na minha certidão de nascimento.

Cheguei com 3 anos e nunca mais sai.

Conheço cidades dos Estados Unidos e Europa e não conheço São José dos Campos.De raiva. Tenho Santos nas minhas veias.


A cidade é tão boa que você vai ter que deixar uns bons cascalhos na cabine do pedágio toda vez que quiser conferir isso.


Aqui, todo mundo é rico.

Ou já foi.

Ou mente que é.

Ou trabalha para ser.

Ou frequenta o Tênis Clube para acharem que é.

Alguns, com a mensalidade atrasada.


Temos o maior porto do América do Sul.

O maior jardim do Mundo.

O maior cemitério vertical do planeta.

Mas é mania de grandeza.

A cidade é pequena e tudo é perto.


Para você demorar pra chegar num lugar, tem que errar o caminho pelo menos duas vezes.

E se errar, chega do mesmo jeito.

A putaqueopariu daqui custa 6 reais de Uber.


A cidade faz mágicas.

Pelé não nasceu aqui. Mas virou eterno na Vila Belmiro.

Chorão nasceu em São Paulo, mas foi aqui que fez “couro cumê”.O rei Roberto Carlos acelerou na estrada de Santos antes mesmo de virar aquele boneco de final de ano.

E os incríveis Mamomas Assassinas ficaram pelados em Santos.

O maior chifre da história foi registrado aqui quando D. Pedro resolveu furunfar com a Marquesa de Santos.


Em Santos todo mundo se conhece.

Ou porque vai no Ouro Verde ou jogou no Curvão ou estudou no Santa ou pega praia no Joinville ou toma uma água no Zé do Coco ou azarou no Mobi ou nadou no Saldanha ou pega onda no Quebra Mar ou se encontra na Praça da Independência para derrubar algum político ou porque senta perto no jogo do Santos.


Todas as pessoas são bonitas.

Mentira.

Tem gente feia.

Bastante.

Não me faça citar nomes.

Seria deselegante.


Se você não é daqui, não sorria muito pra qualquer um.

Você ganha apelido.

Ou um abraço.

Não tenha pressa.

Você vai ser chamado de paulista.

Não peça informações.


A gente sempre dá errado.

Estamos na distância certa de São Paulo.

Longe o suficiente para não fazer parte de sua insanidade.

Perto o bastante para alcançar o bolso onde fica sua carteira.


Aqui surgiram medalhistas olímpicos.

Atores globais.


O incomparável pastel do Carioca.

O famoso Caldo Verde do Almeida.

O cremoso chopp do Heinz.

A maravilhosa torta de banana do Sevilla.


Pqp, como eu amo essa cidade. Parabéns, Santos, nessa data querida.


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