Rafael Motta: O tamanho que se pode ter

Desde quando Santos e região não têm figuras políticas de grande porte? Não faltam circunstâncias para que surjam

Por: Rafael Motta  -  16/02/24  -  06:22
  Foto: FreePik

Poucos são os políticos com luz própria suficiente para iluminar gerações. Os que existem se tornam a esperança de grupos partidários e sociais. Alguns brilham tão fortemente que cegam ou ofuscam aliados, que por isso têm de viver agarrados a eles, para não se perder. Distanciar-se deles, a menos que por inimizade ou desgosto, é difícil. Os maus ‘líderes’ sempre apelarão para a ‘gratidão’ que seus seguidores lhes deveriam ter. Disso, fazem uma forma de escravidão política.


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Também se contam nos dedos os exemplos de políticos que, sem pretensão de acumular seguidores em redes sociais, se tornam referência na forma de agir e nas teses que defendem. Eles aparecem em momentos decisivos da vida nacional ou regional como uma brecha de claridade. E, mais do que os monstros que combatem, por vezes acabam tendo como obstáculo regimes políticos, colegas de plenário, cidadãos cegados ou ofuscados que os veem como inimigos.


A Baixada Santista teve sua cota de grande expressão. O santista Mario Covas concorreu à Presidência em 1989 não por acaso, mas como resultado de décadas de trabalho. Na década de 1950, coordenou a ajuda a vítimas de um deslizamento mortal no Morro do Marapé enquanto servidor da Prefeitura. Nos anos 1960, não deixou a ditadura passar em branco e teve cassados seus direitos políticos e seu mandato de deputado federal. Morreu governador paulista.


Também se pode falar no vicentino Esmeraldo Tarquínio. Negro e órfão de pai aos 7 anos, desde os 8 trabalhou para ajudar no sustento da casa. Foi contínuo, cantor, despachante, advogado. Fez-se vereador, deputado estadual, prefeito eleito pelo partido de oposição. Era tão notável que o regime ditatorial não hesitou em cassá-lo antes mesmo da posse e em tirar dos santistas o direito de escolher o próprio governo. Morreu a cinco dias de uma provável eleição para deputado estadual.


Tarquínio teve um ascendente até meados dos anos 1960: Jânio Quadros. Manteve-se fiel a Jânio por anos após este ter renunciado à Presidência, em parte porque eram do mesmo partido, em outra porque muitos santistas votavam em Jânio. Esteve com o ex-presidente mesmo depois de este ter sido um dos primeiros políticos cassados em 1964. Tarquínio, porém, iluminou-se e brilhou mais por ter continuado em Santos, resistente, ainda que atravessassem a rua para não o cumprimentar.


Desde quando Santos e região não têm figuras claramente desse porte? Não faltam circunstâncias para que alguma surja e cresça. A Baixada está entre as piores do Estado em expectativa de vida e escolaridade, medindo fraqueza com as áreas mais pobres do território paulista. A elevada riqueza é distribuída desigualmente. Seu déficit habitacional só é inferior ao da Região Metropolitana de São Paulo. Recebe do Estado uma fatia do Orçamento em proporção inferior à de sua população.


Dica para políticos — e ao eleitor: enquanto pré-candidatos a prefeito ficarem disputando quem é o queridinho de governador e de ex-presidente, nossos problemas persistirão.


E podem piorar.


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