Partidos, pessoas, conveniência

Se um partido tem diretrizes, procura se cercar de filiados sintonizados a essas ideias

Por: Rafael Motta  -  22/12/23  -  07:19
  Foto: Imagem ilustrativa/Pixabay

A edição desta quarta-feira (20) da coluna Dia a Dia, a cargo do colega Ronaldo Abreu Vaio, trouxe uma nota reveladora de como partidos políticos se tornaram insignificantes. Na disputa interna para indicar uma pré-candidatura de oposição em São Vicente, consta que um possível nome para a Prefeitura é o do vereador Joseval Rodrigues Bezerra, o Jabá. Ele está filiado ao PL, mas, conforme se noticiou, “vem participando de conversas e atividades no PCdoB”.


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Para explicitar tal incoerência, seria como se o ex-presidente Jair Bolsonaro trocasse o Partido Liberal pelo Partido Comunista do Brasil. É, também, como se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixasse o PT para ingressar no Novo, uma legenda próxima da negação do Estado como provedor de bem-estar social e amansador de ‘liberalismos’ contra quem trabalha para enriquecer o investidor.


Se um partido tem diretrizes, procura se cercar de filiados sintonizados a essas ideias. Agremiações políticas, sempre em teoria, estão acima de interesses privados. Pessoas passam; elas ficam. Mas a deformação do caráter partidário, o fisiologismo, a deturpação em nome de ‘elegibilidade’ ou nacos generosos de dinheiro público reduziram a quase zero a política das propostas, em troca da ideologia da conveniência.


Veja-se esta disputa cujo efeito na conquista de votos é duvidoso: em Santos, a deputada federal e pré-candidata à Prefeitura Rosana Valle (PL) aparece, frequentemente e há mais de ano, com o governador Tarcísio de Freitas, filiado ao Republicanos. Mostra-se ao lado de Freitas porque este, em tese, é sinônimo de Bolsonaro. Porém, ocorre que o prefeito e pré-candidato à reeleição Rogério Santos se filiou ao Republicanos e, agora, surge com mais intensidade ao lado do governador.


Na política personalista, Freitas não deveria ter dúvida em ficar ao lado de Rosana. Na política partidária, seria com Rogério que o governador deveria andar em 2024. No personalismo, repita-se, “Tarcísio é Bolsonaro”. No partidarismo, o governante paulista é um filiado do Republicanos, sujeito aos caminhos que a legenda toma. Com um senão: como se trata de um ocupante de cargo executivo, o mandato que exerce não pertence ao partido, e Freitas, se quiser, poderá deixá-lo.


Em uma história do tempo em que se discutia o projeto de reeleição para presidente, governador e prefeito — tão antiga que, agora, se fala em votar o fim dela —, o então deputado federal e, na época, filiado ao PSDB Koyu Iha se dizia contrário a que governantes se reelegessem, ainda mais se estivessem com mandato em andamento. Foi voto vencido na discussão partidária e, mesmo pessoalmente crítico à ideia, votou ‘sim’, no plenário, para que a reeleição fosse instituída.


A lei eleitoral prevê que legisladores deixem o partido no meio do mandato, por exemplo, caso a sigla se desvie de seu programa. Porém, por incluir a aberração da janela partidária, em que se pode trocar de casa seis meses antes da eleição, falseia os partidos.


Pois que você tenha um Natal verdadeiro. O resto é secundário.


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