Mais por si, menos por todos

Políticos mostram individualmente que estão em campanha eleitoral permanente, fazendo menos do que poderiam, juntos

Por: Rafael Motta  -  24/11/23  -  06:23
  Foto: Unsplash

Os políticos são os últimos a terem o direito de afirmar que não acreditam em uma ideia. Estão ali para representar o povo. Nós, o povo, podemos descrer: estamos cansados de um falatório que nada mais é do que prometer coisas que não serão cumpridas, para que candidatos possam ter promessas a repetir na eleição seguinte. Fingem que farão, parecemos fingir esperança.


Clique aqui para seguir agora o novo canal de A Tribuna no WhatsApp!


Mas há um conceito pelo qual se lutou desde a década de 1950, quando era prefeito de Santos o engenheiro Sílvio Fernandes Lopes: a metropoli-zação da Baixada Santista. Foi só em 1996 que, por norma estadual, se criou oficialmente a região metropolitana, na qual existem um conselho de prefeitos e indicados pelo Estado, o Condesb, e o órgão para executar o que se decide, a Agem.


Pois se fizeram dezenas de planos e pesquisas, com destaque para aqueles que têm relação com o trânsito e o transporte, um problema intermunicipal que se agrava à medida que o cidadão desiste de tomar coletivos, caros e desconfortáveis, para usar carro, moto, bicicleta, patinete próprios. Atende por Plano Cicloviário Metropolitano um estudo de quase 20 anos. Para nada.


Com a escassez de empregos bem remunerados na região e a falta de oportunidades em segmentos mais rentáveis, sobretudo em tecnologia, continua a haver quase que ondas migratórias de trabalhadores qualificados da Baixada para a Capital. Porém, a migração é só para escritórios. Muitos continuam morando em Santos e cidades vizinhas. Sobem e descem a Serra todo dia.


Tanto quanto eles, enfrentam problemas os cidadãos locais que viajam e, no retorno para o Litoral, são estrangulados pela Operação Subida. Têm de dividir espaço e arriscar a vida em meio a ônibus e caminhões na pista descendente da Via Anchieta. Um desrespeito de décadas com quem paga a mesma tarifa de pedágio dos demais.


Esse é um exemplo fundamental do desperdício da oportunidade de uma ação política metropolitana. Outro são as barcas Santos-Vicente de Carvalho, uma vergonha reiterada. As balsas Santos-Guarujá dispensam comentários. Um deputado só não faz verão, mas uma bancada unida é outra coisa. Só que cada um age isoladamente.


Santos e região se dão mal desde antes de se sonhar com a metropoli-zação. Em seu livro ‘Eu Vi’, a jornalista Helle Alves, hoje falecida, conta que, na Assembleia Legislativa, possivelmente no fim da década de 1940, um deputado de São Carlos lutou pela criação de uma universidade em sua cidade. Parlamentares aproveitaram o texto e fizeram emendas para Ribeirão Preto, Bauru, Araraquara...


“Eu só estranhei que o representante de Santos, Athié Jorge Coury, embora presente, não tenha também incluído esta Cidade na relação”, descreveu Helle, que era redatora de atas da Assembleia. “O Governo do Estado foi pressionado, não somente a sancionar, mas também a executar a lei”. E surgiu a Universidade Estadual Paulista (Unesp). União, persistência, pressão.


Hoje, cadê todos? Mostrando de forma individual que trabalham, em campanha eleitoral permanente, fazendo menos do que poderiam juntos.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter