A luta contra outro rebaixamento

Após queda, será preciso buscar outros atrativos à região. Que ela não se permita ficar na Série B das prioridades

Por: Rafael Motta  -  08/12/23  -  06:30
Atualizado em 08/12/23 - 06:38
Jogadores do Santos lamentam rebaixamento no Campeonato Brasileiro 2023
Jogadores do Santos lamentam rebaixamento no Campeonato Brasileiro 2023   Foto: GUILHERME DIONíZIO/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO

Os comentaristas de futebol analisarão com profundidade e por dias o que levou o Santos Futebol Clube a perder sua mística de time que jamais havia sido rebaixado de divisão. Porque a queda da equipe não foi sacramentada apenas na última rodada. Problemas em série levam à derrocada dos grandes, que não caem, mas despencam. E isso vale para tudo: relacionamentos, deterioração da saúde, política. Lógico que, nesta coluna quinzenal, era à política que se chegaria.


Em uma região na qual - por mais que se tenha feito, tentado fazer e prometido fazer, mas talvez não se faça até que tenha morrido o último leitor desta página - o futebol é uma força desde meados do século passado, política e esporte têm ligação.


Sessenta anos atrás, quando o Santos se tornara bicampeão mundial, deputados estaduais cogitavam formar uma comissão para discutir a obra de uma ponte entre Santos e Guarujá. Previam que, com Pelé e companhia, o mundo acorreria para cá.


E políticos daquele tempo elaboravam tal previsão por considerar, já em 1963, que o sistema de balsas para a travessia marítima entre as duas cidades era obsoleto, arcaico, antiquado, ridículo. Assim permanece, e se espalha, vergonhosamente, para a inadmissível situação das barcas entre Santos e Vicente de Carvalho. O Santos FC não se preparou lá muito bem para o pós-Pelé, e a região não deixou os piores dias de superar 400 metros de oceano em cerca de duas horas.


Talvez, contudo, nem o mais desinteressado em futebol entre os que leem este texto pretenda debater outra coisa que não este fato histórico: o fim do Santos tal qual se conhecia. A equipe, a magia, a instituição jamais serão as mesmas. Pesa a seu favor, e apenas isto, que a queda tenha ocorrido após a morte de Pelé, como se este fosse o pilar restante da grandiosidade do clube, e como se a equipe, respeitosamente, tivesse esperado o Rei partir para não lhe dar tamanho desgosto.


O vidro que se quebrou na redoma protetora contra rebaixamentos rachará, também, a procura pelo clube como uma razão de viver. Será difícil convencer a maioria das crianças que buscam um time para torcer a escolher o Santos. Ficará complicado manter o ânimo de quem se esgoelou nas arquibancadas a continuar frequentando o estádio. Desafiador é a palavra que representará a dificuldade de encontrar um bom patrocínio para se montar um elenco forte, capaz de voltar à elite.


Como esporte e política não se largam nem em rebaixamentos, aqueles que estão no Poder Público e vendem Santos como ‘a’ cidade esportiva poderão ter de rever planos. Hoje, prepara-se o Valongo para um futuro turístico há muitos anos sonhado. Lá está o Museu Pelé. Pode ir para lá o terminal de cruzeiros marítimos. O Santos, agora, não está assim tão firme, e os idealizadores do turismo e vendedores de imagens locais precisarão de mais ainda para mostrar na área central da Cidade.


Quando um time é fraco, não vai nem com reza, promessa ou baralho. Que a região não se permita ficar na Série B das prioridades dos governos.


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