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Rafael Motta

E todo mundo virou ‘amigo’

“Quanto menos ideias se tem, mais longe se vai.” Honoré de Balzac, escritor francês (1799-1850)

Rafael Motta

26 de maio de 2023 às 06:47
 Em um tempo já distante de hoje em dia, grupos ideológicos eram claros

Em um tempo já distante de hoje em dia, grupos ideológicos eram claros ( Foto: Max )

Até um ponto mais ou menos situado entre o final da década de 1990 e o início deste século, era possível identificar grupos políticos por seu discurso, tanto pelo que diziam quanto por suas atitudes. Em um tempo já distante de hoje em dia, quando “polarização” era natural e não causava urticária, grupos ideológicos eram claros, distintos e evitavam ao máximo qualquer mistura. Ali estava uma forma de não corromper a pureza de princípios, fossem utópicos ou práticos.

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Especialmente após a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, em 2002, e com o predomínio do PT na política nacional, adversários notaram que o eleitorado havia se cansado deles. É claro que o partido também percebera que, sozinho, não iria longe. Nessa conjunção de entendimentos e interesse — o da sobrevivência política —, todo mundo virou ‘amigo’. Em disputas locais, ocorrem coligações, até, entre ‘radicais’ de direita e esquerda.

As corridas eleitorais se transformaram. Em vez de um desfile de ideias para se alcançar o bem comum, ainda que parte delas fosse conversa mole para convencer o público menos atento, partidos e candidatos assumiram forma líquida, cabendo em qualquer recipiente ideológico. Chegou-se ao ponto em que pessoas não desconfiam mais daquele político que aceita aderir a outro grupo: a suposta falsidade está no colo de quem se diz convicto e incapaz de conciliações.

Quem, na verdade, tem certas ideias é o eleitorado. Ele espera encontrar alguém que sirva de espelho para seus pensamentos, como se fosse um interlocutor com o qual pudesse legitimar os próprios pontos de vista, não importando se são irreais, irascíveis, raivosos, desumanos. Daí, o que se vê são políticos que não têm conceitos para apresentar ao público: são eles que se alimentam de princípios do eleitor, sobretudo quando são absurdos, para se aproveitar desse nicho de mercado.

Para deixar mais claro o parágrafo acima, há políticos que abandonaram o trabalho de pensar. Aliás, o que defendem não é exatamente o que pensam. Talvez, até, queiram o contrário, mas a vida pública se consolidou como uma ‘profissão’ muito bem paga, sem cartão de ponto, duas férias por ano e, para os maus, com alto potencial para obtenção de vantagens pessoais. Então, vale o ponto de vista do ‘cliente’, mesmo que não seja o seu próprio, postando na internet e agradando à ‘freguesia’.

Como confidenciou alguém que assessorava um indivíduo eleito por um partido oposto ao da candidatura que defendeu para o Executivo e, para buscar novo mandato, trocou de legenda: “É sobrevivência. O que a pessoa fará, se não se reeleger? Voltará a exercer a profissão de origem?”.

Lembrando que o próximo ano é de eleição municipal, tudo isso leva a outro movimento: o dos ‘não candidatos’. Partidos julgam mais confortável apoiar quem já governa e ficar com uma fatia do poder do que ter o trabalho de governar. E todos se acomodam.

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