Direitista comunista. É cada um por si

Deterioração ideológica começou em ponto difícil de estabelecer. Baixada é amostra da acomodação de interesses pessoais

Por: Rafael Motta  -  12/04/24  -  06:17
  Foto: FreePik

Treze anos atrás, quando estava em gestação o Partido Social Democrático (PSD), seu criador e futuro presidente nacional, Gilberto Kassab, disse que a legenda “não será de direita, não será de esquerda, nem de centro. É um partido que terá um programa a favor do Brasil, como qualquer outro deve ter”.


O partido, então, parece não ser de nada, no sentido de suposta isenção ideológica. Algo que não existe, pois ninguém é vazio de ideias sobre alguma coisa. Mas, em um mundo político no qual tanta gente se esconde e faz jus à música Canto de Ossanha, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, “o homem que diz sou/Não é!/Porque quem é mesmo é/Não sou!”.


Esse preâmbulo serve para lembrar que, após o fim dos 30 dias da janela partidária, um troca-troca que levou dois terços dos vereadores da Baixada Santista a procurar morada para as próprias aspirações eleitorais, o PSD se tornou o partido que mais ocupa cadeiras nas câmaras municipais da região.


Essa realidade, apresentada ontem por A Tribuna, confirma a lástima da deterioração ideológica dos partidos. Ela não começou com o PSD, e é difícil estabelecer com certeza em qual momento posterior a 1979 — quando, ainda na ditadura, se retiraram os freios à criação de legendas além de Arena (situação) e MDB (oposição) — o esfalecimento teve início.


Há pistas, sujeitas a melhor esclarecimento por estudiosos profundos da política nacional. E todas elas têm a ver com vantagens pessoais ou paroquiais (para redutos políticos). A Arena virou PDS, e do PDS surgiu o PFL, que se entendeu com o então PMDB do presidente da época, José Sarney, para participar do governo deste e se fortalecer.


Pelas permissões que fez ao fisiologismo — para si mesmo, inclusive —, o PMDB deu origem a uma dissidência, o PSDB, que nasceu “longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas”. Era, portanto, e não se negava isto, de centro-esquerda. Porém, para vencer a eleição presidencial de 1994, aliou-se ao PFL e lhe deu a vaga de vice na chapa. Guinou para a direita. Está encolhido.


O PT, sigla para Partido dos Trabalhadores, já nas eleições estaduais de 1982 em São Paulo tinha o mote “vote no três, porque o resto é burguês”. Três era o seu número de registro. Foi em 2002 que obteve seu maior feito, ganhando a Presidência. Contudo, foi além da esquerda para vencer. O vice, José Alencar, era um industrial filiado ao PL, de direita. Veja-se o que são PT e PL hoje.


A Baixada é uma amostra dessa acomodação. O PSD tem o vice-governador. O MDB cresceu com Praia Grande, onde o deputado federal Alberto Mourão poderá tentar a Prefeitura. O Republicanos, quarto maior partido local, é o do governador. O PL tem um vereador a mais do que em 2020, e o PT está igual, mostrando que, se há respeito a ideologias, elas estão diluídas por muitas siglas.


Numa realidade local em que vereador do PL vai para o PCdoB, é cada um por si. E o eleitor, ao deixar isso passar, ajuda a enfraquecer o sentido da política (o bem comum) e o dos partidos (o abrigo e a expressão de ideias).


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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