À espera dos dias de sorte

Sextas-feiras 13 são o infortúnio de décadas de falatório da classe política naquilo que daria bem-estar coletivo

Por: Rafael Motta  -  13/10/23  -  06:25
O animal sofre com estigmas e preconceitos
O animal sofre com estigmas e preconceitos   Foto: Pixabay

Sexta-feira 13. Está difícil ver quem dê importância à superstição de que datas como a de hoje signifiquem um dia de azar. Também parecem perdidos medos como os de cruzar com gatos pretos ou passar sob escadas — a menos, claro, que houvesse alguém trabalhando dependurado nelas e deixasse cair martelo, pedaço de madeira ou balde de tinta no pedestre. Pois que cientistas sociais respondam: evoluímos na descrença ou a vida corrida não dá tempo aos temores?


Porque, na verdade, as sextas-feiras 13 não se dão apenas em dias como este. São o infortúnio de sofrermos os efeitos de décadas de falatório e inoperância da classe política, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas que levariam mais bem-estar às pessoas que dependem dela. Nem se fala na insuficiência de moradias dignas; no desabastecimento de água potável em núcleos que os governos poderiam regularizar, mas não o fazem; no transporte intermunicipal desconfortável.


O Porto de Santos, pelos impactos financeiros e trabalhistas que tem na economia regional, é alvo de debates requentados sobre a reunião de turismo com movimento geral de cargas. Trata-se de algo tão velho quanto a existência de qualquer situação que lembre o verbo aportar: o desembarque dos colonizadores portugueses, a imigração, a presença de tripulantes de navios cargueiros, o vaivém de viajantes de épocas anteriores às jornadas aéreas.


Neste último caso, que remete às temporadas de cruzeiros marítimos mais recentes, fala-se em mudar o terminal de passageiros de Outeirinhos para o Valongo, onde se planeja uma grandiosa integração portuária e turística. O que se pretende, no fundo, é devolver ao Porto aquilo de que ele dispunha um século atrás: rapidez e conforto para viajar de navio. E sem um trem para conduzir cidadãos à plataforma de embarque e desembarque, o que existia há 100 anos.


Prova disso está em um filme produzido entre 1925 e 1928 pela Companhia Docas de Santos, disponível no Banco de Conteúdos Culturais da Cinemateca Brasileira. Para assistir, use o link


www.bcc.org.br/filmes/443497.


Da época do cinema mudo, contém legendas para descrever o que viria. Aos 30 minutos, o texto: “Voltam-se agora as atenções da Companhia Docas para a comodidade dos senhores passageiros. Como nos portos mais adiantados do mundo, o trem de passageiros chega junto ao paquete (navio)”.


Logo após, o trem aparece, viajantes desembarcam e sobem para o navio. “Os passageiros descem satisfeitos do trem especial, pois lhes foram evitadas duas baldeações. Suas bagagens os acompanham sempre”. E “esta combinação foi estabelecida de acordo com a São Paulo Railway (a antiga estrada de ferro Santos-Jundiaí) e as companhias de navegação, e dela nenhum proveito tira a Companhia Docas porque esse serviço é feito gratuitamente”. Mais, aos 40 minutos do filme: “O armazém especial para recebimento de bagagem de passageiros está situado no centro do cais e tem uma área total de 1.325 metros quadrados”.


Neste e em outros assuntos tão falados, quando a sexta 13 acabará?


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