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Paulo de Jesus

As janelas quebradas pelo caminho

Algumas são literalmente quebradas. Outras, porém, são metafóricas, refletindo a falta de investimento do poder público

Paulo de Jesus

30 de setembro de 2023 às 06:30

( Foto: Pixabay )

Quando ando pelas ruas da cidade, invariavelmente, observo diversas janelas quebradas pelo caminho. Algumas delas são literalmente quebradas, fragmentadas pela passagem do tempo ou pela negligência comum entre as pessoas. Outras, todavia, são metafóricas, refletindo a falta de investimento do poder público em nossa estrutura urbana e a ausência de legislações eficientes que inibam este estado de coisas. Lamentavelmente, essas janelas quebradas, se não reparadas, serão precursoras do aumento da insegurança que assola nossas vidas atualmente.

Não à toa, James Wilson e George Kelling cunharam como “teoria das janelas quebradas” a intrigante visão que relaciona o recinto urbano degradado e a incidência de crimes. Esse pensamento sustenta que a criminalidade floresce onde há uma sensação de impunidade, desordem e despreocupação com as normas de convivência, e onde o Estado falha em exercer sua tutela. Basta darmos uma volta na maioria dos espaços públicos do Brasil para constatarmos que essa suposição parece encontrar muito sentido por aqui.

É constrangedora a falta de investimento, de forma organizada, em infraestrutura. Ruas esburacadas, calçadas que desafiam o equilíbrio, transporte público ineficiente - esses são apenas alguns exemplos da realidade que muitos de nós enfrentamos diariamente. Essa situação caótica desperta uma aparência de abandono, que ecoa perfeitamente com o conceito da teoria das janelas quebradas apresentado pelos autores.

Além da questão atinente à estrutura, esse cenário evidencia que a ineficiência das leis mais agrava do que soluciona o problema. Quando pequenas infrações passam impunes, como estacionamentos irregulares, construções ilegais e descarte inadequado de lixo, isso cria uma percepção de que as regras podem ser ignoradas. Isso, por sua vez, aumenta a impressão de negligência, encorajando comportamentos mais graves, incluindo contravenções penais e até crimes.

É hora de reconhecermos que a segurança pública não é apenas uma questão de policiamento e punição. Envolve também a criação de espaços urbanos que promovam a ordem, a cidadania e o respeito às leis. Precisamos quebrar o ciclo de desorganização e ausência de punição. A solução não é simples, mas começa com um compromisso renovado com nossas cidades, priorizando o investimento em infraestrutura, melhorando a aplicação das leis e envolvendo a comunidade na promoção da ordem e do respeito às normas de convivência.

Não podemos fechar os olhos para as janelas quebradas deixadas pelo caminho. Somente através do esforço conjunto conseguiremos reparar o que for necessário e, assim, criar ambientes mais seguros e acolhedores. No final das contas, a teoria em comento não é apenas uma tese acadêmica, e sim um chamamento à ação para que, como membros da sociedade, trabalhemos juntos para consertar o que está quebrado e construir um futuro mais seguro e próspero.

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