Em todos os sentidos

Por aqui futebol covarde, sem objetividade e ousadia. Por lá, planos táticos bem definidos

Por: Marcio Calves  -  08/07/21  -  19:18
 Nossos gramados, infelizmente, parecem pastos contra pisos europeus de primeira linha
Nossos gramados, infelizmente, parecem pastos contra pisos europeus de primeira linha   Foto: Divulgação/Aston Villa

Nesses tempos de recuperação e decepção, comparar é inevitável. Nas últimas semanas, simultaneamente, nós tivemos Eurocopa, Copa América (ou cova América) e Brasileirão, séries A e B. Sem contar o torneio de Wimbledon, com toda a sua pompa e tradição, além das formalidades que envolvem até a obrigatoriedade de utilização de uniforme branco e o piso de grama natural.


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Por enquanto, porém, fiquemos no futebol. Várias são as análises e comparações possíveis. Comecemos pelas condições dos gramados. Que diferença!


Os nossos, infelizmente, perdoem, parecem pastos, contra pisos europeus de primeira linha. Foi preciso até fechar o Maracanã previamente para tentar minimizar a situação e proporcionar um mínimo para a “prática da virtude” na partida final. Até os jogadores, que normalmente se omitem, reclamaram publicamente.


Esse quadro, não podemos esquecer, também a consequência da forma abrupta e absurda com que a competição foi viabilizada. Acreditem: “organizamos” uma Copa América por telefone, em pouco mais de 24 horas e em meio a mais uma crise ética e moral na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Até o presidente foi afastado. Naturalmente, vem à mente a música dos Originais do Samba, que tem entre os seus autores um famoso compositor da Portela, Ary Alves de Souza, ou Ary do Cavaco: “Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”.


O pior, porém, em mais um contraste gigante, foi o nível técnico das partidas. Por aqui, futebol covarde, sem objetividade e ousadia e truncado a todo instante, com raros lances de emoção. Por lá, planos táticos bem definidos, coragem, vontade de vencer e, naturalmente, espetáculos em até 120 minutos ou nos pênaltis. Quem teve coragem de suportar os 90 minutos do recente clássico entre Corinthians e São Paulo teve a exata dimensão do atual estágio do nosso futebol.


Na Copa América, além de Neymar e Messi, talvez quatro ou cinco estejam acima da média, com direito a rótulo de craque, ou quase isso. Por lá, meu Deus! Em cada equipe, vários diferenciados, como na França. Ou na Inglaterra. Ou até na Dinamarca e Itália, entre outras seleções. E com vários brasileiros naturalizados, como Jorginho, na esquadra italiana, cotado até para melhor do mundo, ou Thiago Alcântara, no time espanhol.


Que inveja! Triste realidade do Cone Sul, com Bolívia, Venezuela, Perú e outras seleções. Uma copa com roteiro definido. Ou não estava escrito que a final seria Brasil e Argentina?


Por fim, o mais grave contraste: a educação em campo, o respeito mútuo. Quando muito, uma ou outra manifestação de insatisfação com a arbitragem. Sem excessos, sem pedir cartões, amarelo ou vermelho, sem simulações ou quedas cinematográficas, uma das principais características do nosso maior craque, agora Neymar Júnior.


Nesse ponto, ficou claro nosso subdesenvolvimento, nossa falta de educação, a ausência total de compostura e até de ética. Na Euro imperou também o fair play, desde o grave momento vivido pelo atacante Christian Eriksen, que sofre um mal súbito na partida contra a Finlândia, e comoveu o mundo, até as reações após as derrotas. Em nenhum momento, os adversários eram inimigos, ao contrário do que ocorreu ao final das muitas partidas da Copa América.


Enfim, foram muitas as lições. Fica a esperança que, a partir de tantos contrastes, nosso continente possa evoluir.


Em todos os sentidos.


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