Em Tempo: El Loco brasileiro

No futebol brasileiro, infelizmente, o imediatismo sempre prevalece

Por: Marcio Calves  -  19/11/23  -  06:45
  Foto: Divulgação

No futebol brasileiro, infelizmente, o imediatismo sempre prevalece. Resultado a longo prazo é quase impossível, muito mais pela falta de personalidade e coragem de vários dirigentes. O Santos, na gestão atual, é um bom exemplo, assim como o Flamengo, mesmo com muitos recursos para investir na construção de um elenco.


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Os dois times, cada um no seu nível técnico, viveram um ano de instabilidade em campo e rigorosamente fracassaram em seus objetivos. O Santos teve mais de dez técnicos, e o Flamengo pelo menos seis, incluindo os interinos. Resultado: fracassos e crises, além de grandes prejuízos financeiros.


Até pela chamada “Data Fifa”, período em que o futebol de clubes é paralisado por completo para a disputa das Eliminatórias, a bola da vez são a Seleção Brasileira e Fernando Diniz. A derrota para a Colômbia por 2 a 1, de virada, despertou um rosário de críticas e a defesa da imediata troca do treinador.


Sem dúvida, a campanha nas Eliminatórias é fraca, com derrotas para Uruguai e Colômbia e até um empate com a Venezuela de Soteldo. Mesmo nos amistosos, sob o comando de Ramon Menezes, a campanha também não foi boa.


É preciso entender que o Brasil, depois de fracassar em mais dois campeonatos mundiais, precisa mudar e rever conceitos. A indicação de Fernando Diniz para a Seleção tem que ser interpretada como uma proposta de mudança de modelo, numa tentativa de romper com o passado de decepções.


É óbvio que os resultados incomodam, principalmente por envolver as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, que pela primeira vez terá a participação de 48 seleções. É licito acreditar que o Brasil se classificará, faltam muitas rodadas e o número de vagas no Cone Sul é uma garantia.


Fernando Diniz, na essência, representa uma nova filosofia de jogo, mais moderna, fugindo do modelo tradicional. Uma boa referência é o sistema de jogo do Manchester City, do técnico Pep Guardiola, que foge do habitual e da rotina mundial. Tal treinador, considerado até o melhor do mundo, também sofreu derrotas contundentes, adiando por vezes a conquista do título maior do continente europeu, a Liga dos Campeões. Nem por isso foi demitido, pelo contrário, foi prestigiado, e esse ano conquistou tal torneio.


Por isso mesmo, Fernando Diniz e a Seleção Brasileira precisam de tempo para trabalhar. As dificuldades de adaptação à filosofia e esquema de jogo são naturais e normais, não podem ser fatores de desestabilização.


No geral, contra Colômbia e Uruguai, o sistema defensivo falhou muito, de forma coletiva principalmente no jogo aéreo. O jogo aéreo mostrou uma das principais fragilidades dos jogadores de defesa, incluindo o goleiro Alisson, um jogador de grande estatura. O grande Rodolfo Rodriguez, que chegou a ser considerado o melhor do mundo, disse certa vez que bola alta na pequena área é do goleiro. Muitos atacantes até hesitavam em entrar em qualquer disputa naquele setor do gol para evitar o confronto com o uruguaio, cujo físico e vigor também causavam temor.


Nos dois gols da Colômbia, a falha maior foi do lateral Emerson Royal, um jogador que não tem nível técnico para ser titular da posição.


Os jogos, apesar de oficiais, têm servido também para avaliações do técnico Fernando Diniz. Está claro que a cada convocação haverá mudanças, na busca pelos verdadeiros titulares. Nessa última, a grande novidade foi o garoto Endrick, do Palmeiras, com apenas 17 anos.


Várias foram as vezes em que treinadores da Seleção levaram a idade como critério decisivo de convocação, num erro primário. Pelo tempo até a Copa, é válido preparar Endrick e outros como Vitor Roque, por exemplo, para o futuro.


Na próxima terça feira, no Maracanã, o adversário será a Argentina, de Lionel Messi. A atual campeã do mundo também foi derrotada na última rodada, pelo Uruguai, em pleno estádio de La Bombonera. Isso prova que não é apenas o Brasil que não justifica sua fama de grande do futebol mundial.


O técnico do Uruguai, Marcelo Bielsa, conhecido como “El Loco”, tem um estilo semelhante ao de Fernando Diniz. A Federação de Futebol do Uruguai já emitiu sinais claros de que existe um projeto em curso e que será seguido à risca, sem imediatismos, acreditando que a médio e longo prazos os resultados surgirão naturalmente.


É hora de prestigiar o “El Loco” brasileiro.


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