
(Arquivo: EJL Odontologia e Estética)
Reginaldo estava nervoso. Pouco dinheiro. Apenas o necessário para pagar as contas. Se fosse sair para jantar com a sua namorada, comprometeria o orçamento. Trabalhava tanto e ainda vivia no aperto. Era um constante mau humor.
Em uma daquelas ironias da vida, Reginaldo recebia toda semana, pelo aplicativo de mensagens do seu celular, um texto disparado aleatoriamente pela produção de um comediante chamado Fefê Albuquerque. Não sabia como o número do seu telefone havia ido parar na agenda daquela gente. A foto de perfil do tal Fefê Albuquerque mostrava um rapaz com cabelos cuidadosamente penteados, óculos de grau e dentes branquinhos.
Este humorista, especializado no gênero stand up comedy, se apresentava em uma casa noturna. Em um pequeno palco, contava piadas e fazia imitações. Mesa para duas pessoas por apenas R$ 100,00, incluídas algumas bebidas e uma porção de tira-gosto. “Quem paga para ver uma porcaria dessas?”, pensou Reginaldo, em seu habitual mau humor.
Havia algum tempo ele já estava bastante incomodado com essas mensagens. Chegou a cogitar bloquear o humorista, mas limitava-se a deletar a propaganda.
Naquele dia de muito calor, o inconveniente Fefê Albuquerque mais uma vez invadiu o seu telefone. “Venha rir e se divertir com a revelação do humor brasileiro”.
A mensagem pegou Reginaldo em um momento muito inapropriado. Havia brigado com a namorada e tudo parecia dar errado na sua vida. Sentiu a raiva aflorar e resolveu dar um basta. “Idiota. Para de me escrever”, foi a curta resposta que o dono do celular enviou para o comediante.
Alguns minutos depois, tracinhos azuis. Confirmação de leitura. Já era tarde para se arrepender e apagar o xingamento.
“O que é isso rapaz? Está nervoso? Vem assistir meu show que você fica feliz”, escreveu o comediante, complementando a mensagem com os famosos rostinhos amarelos que simulam gargalhadas.
Enfurecido, Reginaldo perdeu as estribeiras. “Se esta semana você aparecer naquele boteco, te garanto que vamos virar notícia de jornal!”.
As mãos de Reginaldo tremiam. Um estranho sorriso repuxou o canto de sua boca. Sentia-se vingado e enfurecido.
Sexta-feira. No bar, um aviso perto da porta principal informava que Fefê Albuquerque estava gripado. Não poderia se apresentar. Com medo e sem sair de casa, o comediante ficou deitado, olhando para o vazio do teto branco do quarto tentando entender por que ainda havia no mundo tanta gente “ruim”.
Em uma das mesas daquele mesmo bar, Reginaldo bebia solitariamente, arrependido. Não seria má ideia dar um pouco de risada para preencher o tédio e a amargura dos seus dias. Contradições da vida.