Para os hipócritas - Financiamento público eleitoral sem hipocrisias!

Brasil não inventou o financiamento público eleitoral, funciona assim ao redor do mundo

Por: Júnior Bozzella  -  19/07/21  -  06:31
 Financiamento público de campanha acabou com a farra da relação vergonhosa de concubinato entre políticos e empresas
Financiamento público de campanha acabou com a farra da relação vergonhosa de concubinato entre políticos e empresas   Foto: Divulgação

A hipocrisia, a mentira e o estelionato eleitoral caminham juntos. Nesta última semana a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) tomou conta da mídia, não exatamente pela importância do assunto, que era a definição das prioridades do orçamento do governo federal para o próximo ano, mas pelo uso eleitoreiro de um dos tópicos: o valor destinado ao fundo eleitoral.


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Assisti dezenas de parlamentares irem às redes sociais com discursos inflamados sobre a utilização do fundo eleitoral. O curioso é que estes são os mesmos que na sua prestação de contas receberam vultuosas somas para colocarem as suas campanhas nas ruas oriundas deste mesmo fundo que tanto criticam. Respeito a opinião de todos, mas as pessoas tem que ter coerência, porque hipocrisia é desvio de caráter. Não dá para fazer um carnaval criticando o fundão, mas ser o primeiro na fila na hora da distribuição dos recursos. Isso não é só mentiroso e desonesto, é chamar o povo de idiota.


A demonização do Fundo Eleitoral é um discurso que lacra, que viraliza, e os aproveitadores de plantão deitam e rolam, porque isso traz mais popularidade do que falar a verdade para a população. O financiamento público de campanha acabou com a farra da relação vergonhosa de concubinato entre políticos e empresas. Eram milhões e milhões de reais que jorravam dos cofres das empresas diretamente para os caixas 2 dos partidos, num processo ilícito e criminoso, cujos exemplos são muitos, incluindo um dos maiores esquemas de corrupção do país desvendados pela operação Lava-Jato.


Da maneira como vem sendo vendido, parece que o fundo eleitoral é algo ilícito, o que é um grande absurdo. O Brasil não inventou o financiamento público eleitoral, funciona assim ao redor do mundo, especialmente nos países desenvolvidos. Diversas organizações internacionais apontam que o financiamento estatal é benéfico para diminuir a influência de empresas nos governos. Na Alemanha, Colômbia, França, Itália, EUA, México e em mais de 100 países partidos e campanhas eleitorais contam com algum tipo de financiamento público. De acordo com o Instituto Internacional pela Democracia e Assistência Eleitoral (Idea), o sistema é muito usado na Europa Ocidental, onde apenas a Suíça não conta com algum tipo de ajuda estatal. A democracia tem um custo e a divisão de valores visa dar condições mais igualitárias de competitividade a todos os candidatos e legendas. Não fosse isso, sem financiamento privado e nem público eleitoral, teríamos os chefes do executivo se perpetuando no poder e fazendo sucessores eternamente, pois só eles teriam condições de levar a sua mensagem ao eleitor.


Quando me perguntam se eu votei a favor da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) a resposta é sim, com toda certeza, porque o orçamento e o país precisam andar. Votar não, era votar contra toda a LDO. Agora, se a pergunta for você foi a favor de triplicarem o fundo eleitoral? A resposta em alto e bom som é NÃO! Agora, mais uma vez repito, é preciso falar a verdade para o povo.


Não fui eu ou qualquer um dos deputados da atual legislatura que fizeram a LDO. Quem encaminhou a LDO para o Congresso Nacional com a previsão do Fundo Eleitoral foi o presidente da república Jair Bolsonaro, assim como a articulação para definir o aumento de R$ 2 para R$ 5,7 bilhões foi realizada pelos líderes do governo dele. Mais uma vez o presidente Bolsonaro ajoelhou para atender o centrão. Se ele agora está fazendo outro teatro ou se arrependeu, não precisa ficar inventando falsas narrativas, vai lá e veta. O poder da caneta é do presidente da República.


Eu sou apenas uns dos 278 deputados, sem qualquer poder de veto, que votou a LDO. Quer debater o fundo? ok! Vamos debater, mas sem hipocrisia e populismo barato. Falar bravatas todo mundo fala, mas na hora H todos que criticaram o fundo querem usá-lo em suas campanhas.


O que eu defendo é que se discuta junto à sociedade qual a melhor forma de financiamento de campanhas. O financiamento privado já sabemos que fracassou, qual o outro modelo que não deixaria o poder Legislativo subserviente aos empresários ou ao poder Executivo? Que aqueles que tanto criticam o financiamento público eleitoral apresentem um caminho viável que garanta o mínimo de equilíbrio entre os partidos e candidatos na hora da disputa eleitoral e favoreça a alternância de poder, caso contrário o Brasil virará refém daqueles que tem a máquina pública na mão, ou seja, refém do governo e de quem já está no poder!


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