O desespero venceu o medo

A cada novo depoimento na CPI da Covid fica vez mais evidente que houve negligência por parte do Governo Federal

Por: Júnior Bozzella  -  31/05/21  -  07:22
Atualizado em 31/05/21 - 07:23
 O desespero venceu o medo
O desespero venceu o medo   Foto: Imagem ilustrativa/Estadão Conteúdo

É difícil procurar argumentos para o injustificável. Eu fui um dos autores na Câmara dos Deputados do pedido de abertura de uma CPI para apurar as irregularidades no enfrentamento da Covid-19 no Brasil e tenho acompanhado muito de perto a CPI da Covid no Senado. A cada novo depoimento fica vez mais evidente que houve negligência por parte do Governo Federal, mais especificamente do presidente da república Jair Bolsonaro e do primeiro escalão da sua equipe na condução da pandemia. O que não conseguimos entender é qual o tipo de motivação para um presidente deixar o povo do seu país morrer sem vacinas.


Extermínio em massa é de uma crueldade tão grande que é simplesmente incompreensível. Não foi uma, duas ou três vezes que o governo Bolsonaro recusou a vacina, foram mais de dez, resultando na dispensa de mais 100 milhões de doses, uma quantidade que teria sido suficiente para imunizar boa parte da população adulta do nosso país.


Depois de quase um ano e meio de pandemia a ida da população às ruas no último sábado (29) nos fez questionar algumas coisas: primeiro que as pesquisas realmente refletem às ruas e a aprovação do governo derreteu. Hoje, inquestionavelmente a parcela da população que ainda apoia o Bolsonaro é infinitamente menor do que a que rejeita o seu governo. Segundo, que para uma mente perturbada como a do presidente da república a pandemia foi útil para manter o povo longe das ruas e evitar manifestações durante tanto tempo. E finalmente, serviu para acender o sinal de alerta de que quando uma nação vai às ruas durante a pandemia é o termômetro mostrando que a temperatura está alta, significa que o seu governo é mais perigoso que o vírus.


Meio milhão de mortos é um número surreal, mas a sensação de saber que boa parte dessas mortes poderia ter sido evitada se o governo federal tivesse comprado as vacinas, se tivesse agido com responsabilidade e apresentado uma estratégia nacional de enfrentamento à pandemia causa repúdio e revolta. Quantas vidas e quantos empregos não teriam sido salvos se o governo Bolsonaro tivesse simplesmente comprado as vacinas!


Os organizadores dizem que houve atos em ao menos 213 cidades do Brasil e 14 do exterior, com cerca de 450 mil pessoas participando. ​Os protestos ocorrem no momento em a reprovação ao governo do presidente Jair Bolsonaro chega a 59%, maior índice desde o início do governo.


Não estou aqui julgando se está certo ou errado uma manifestação com aglomeração no meio da pandemia. A pauta não é está. O que está em questão é que mesmo sem vacina e com medo as pessoas foram às ruas para manifestar a sua insatisfação com o governo Bolsonaro. Vocês imaginam como teria sido se tivéssemos uma nação vacinada e uma pandemia controlada? É disso que o Palácio do Planalto tem medo!


Ontem vimos que o desespero venceu o medo! Vimos que grande parte da população já entendeu que enquanto o Bolsonaro for o presidente do país o brasileiro seguirá morrendo, a fome aumentando e o povo correndo em círculos para tentar sair do caos instaurado pela ineficiência do presidente em lidar com a pandemia.


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