Do estelionato eleitoral ao charlatanismo

Todas aquelas promessas de combate à corrupção, liberalismo econômico, Brasil acima de tudo, não passavam de falácias

Por: Júnior Bozzella  -  03/05/21  -  09:02
   O presidente cortou R$ 240 milhões do meio ambiente, um dia após afirmar na cúpula que dobraria verba da fiscalização
O presidente cortou R$ 240 milhões do meio ambiente, um dia após afirmar na cúpula que dobraria verba da fiscalização   Foto: Estadão Conteúdo

Charlatão: Aquele que se utiliza da boa-fé de alguém, geralmente, fingindo atributos e qualidades que não possui, para obter (dessa pessoa) quaisquer vantagens, ganhos, lucros etc.; impostor. Esta definição não deixa dúvida para qualquer pessoa minimamente esclarecida que o Brasil foi vítima do maior charlatanismo eleitoral da história do nosso país. Todas aquelas promessas de combate à corrupção, liberalismo econômico, Brasil acima de tudo, não passavam de falácias de um impostor.


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O que causa repugnância é onde isso está levando o país e o povo brasileiro. Hoje, a estimativa é que temos mais de 14 milhões de pessoas despejadas para fora do mercado de trabalho. Você pode perguntar para quem quer que seja, morador de qualquer cidade do Brasil, a resposta é sempre a mesma: a quantidade de pessoas em situação de rua em todo o país é assombrosa.


É muito fácil culpar a pandemia e cruzar os braços. Quando o país elegeu o Bolsonaro presidente com o Paulo Guedes como fiador da política econômica do então futuro governo, acreditávamos que teríamos ali duas pessoas efetivamente dispostas a fazer o possível e o impossível para tirar o Brasil da crise em que estava mergulhado no pós-governo da ex-presidente Dilma Rousseff.


As falas do ministro da Economia Paulo Guedes mostram o quão distante ele está da realidade do Brasil e do povo brasileiro. Estamos chegando à metade do terceiro ano de governo e a situação econômica do país está beirando a calamidade. A inflação em ascensão e as altas taxas de desemprego estão condenando milhares de brasileiros à fome. Quando abro os jornais e leio que as vendas de ovos tiveram aumento significativo no último ano, o que vejo é que nunca se comeu tanto ovo no Brasil como nos dias atuais, simplesmente porque a população já não consegue comprar carne. Agora, quando questionado sobre quais a medidas a serem tomadas para retomar o crescimento econômico do país e, com isso, aumentar a oferta de empregos, a resposta de Guedes é que a pandemia deve desacelerar nos próximos três meses e precisamos aguardar. Ministro, quem tem fome tem pressa, não dá para conceber que a melhor aposta do governo federal para recuperar a economia é esperar a pandemia acabar. Estamos há um ano e meio vivendo esse cenário, não é possível que o ministro e o presidente entendam que o único caminho para o Brasil é sentar e esperar o fim da pandemia para começarem a governar.


O ministro da economia, que deveria se embasar em números e cálculos, insiste em apresentar prognósticos mágicos com base em achismos e apostando única e exclusivamente no extermínio do vírus. É por isso que todas as projeções anteriores de Guedes se mostraram absolutamente equivocadas. Ele calculou em R$ 5 bilhões o gasto para exterminar o vírus, mas só em 2020 foram usados R$ 524 bilhões em medidas contra a Covid.


Especialistas de todo o país não creem na extinção da pandemia em 2021. Com a vacinação em um ritmo extremamente lento, o negacionismo enraizado pelo discurso do presidente Bolsonaro e uma série de variantes circulando pelo país, a expectativa é que tenhamos uma trégua efetiva do vírus apenas em meados de 2022. Isso não sou eu quem estou falando, a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou que falar da pandemia em 2021 é “prematuro e irrealista”.


Ter a Covid-19 controlada ainda este ano é pura ilusão! A questão é: Se o governo federal não tem um plano melhor para a recuperação econômica do país além de aguardar o fim da pandemia, o Brasil aguentará chegar até 2022 vivendo este cenário de degradação econômica? Aí, caro ministro, embasado em números lhe digo que não! Caminharemos para o caos e recessão e nos aproximaremos de economias como a da Venezuela.


O Brasil precisa de mais do que o auxílio emergencial por 120 dias para sair da crise e recessão. E sem dúvida alguma, sentar, cruzar os braços e esperar a pandemia de covid-19 passar para assistir ao “milagre” da recuperação econômica não me parece uma opção. Vender isso para o povo é charlatanismo!


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