Crianças não precisam de armas, precisam de comida, respeito e escolas!

A gravidade do gesto do presidente vai além da exploração desta cena de retrocesso

Por: Júnior Bozzella  -  11/10/21  -  06:40
 Crianças não precisam de armas, precisam de comida, respeito e escolas!
Crianças não precisam de armas, precisam de comida, respeito e escolas!   Foto: Rogério Bomfim/Prefeitura de Santos

Recentemente o Comitê de Direitos das Crianças das Nações Unidas repudiou oficialmente a atitude do presidente Jair Bolsonaro de colocar ao seu lado durante um ato público em Belo Horizonte uma criança vestida com um uniforme militar empunhando uma arma de brinquedo.


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A gravidade do gesto do presidente vai além da exploração desta cena de retrocesso. O Brasil é um dos países mais violentos do mundo e a postura do presidente faz propaganda a uma situação que estamos há anos tentando combater. Crianças precisam de escolas, comida, moradia, saúde, amparo, respeito e amor, e não de armas. A cena protagonizada pelo presidente é exploração à violência infantil.


O gesto do Bolsonaro colocou, mais uma vez, negativamente, os holofotes sobre o Brasil pelo descumprimento de tratados internacionais assinados em 2002 em que o Brasil se compromete com a promoção da dignidade das crianças e com políticas para evitar o recrutamento de menores em guerras e outros conflitos violentos. Armas não são brinquedos, e a inserção delas no contexto da vida de uma criança traz consequências gravíssimas como a destruição de famílias, de lares, de escolas e de vidas.


Não foi à toa que a ONU cobrou punição a Bolsonaro condenando “nos termos mais veementes o uso de crianças pelo presidente Bolsonaro, vestidas com traje militar e segurando o que parece ser uma arma de fogo, para promover sua agenda política".


Como foi muito bem lembrado pela Organização das Nações Unidas, a participação de crianças nas hostilidades, reais ou simuladas, é explicitamente proibida nos tratados assinado pelo Brasil. A ONU disse ainda que "tais práticas devem ser proibidas e criminalizadas, e aqueles que envolvem crianças nas hostilidades devem ser investigados, processados e sancionados".


Números da Fundação Casa de São Paulo indicam que atualmente há 5.269 jovens entre 12 e 20 anos cumprindo medida socioeducativa no local (aqueles que têm 18 anos ou mais estão cumprindo penas aplicadas quando ainda eram menores de idade). Desses, 2.670 foram apreendidos por tráfico de drogas, o equivalente a mais da metade das detenções. Quando se trata de colocar uma arma nas mãos de uma criança que não tem maturidade e nem dissentimento do que é certo ou errado, as portas da criminalidade sempre se abrem primeiro, porque o tráfico e o crime em geral se alimentam de tudo aquilo que é ilegal, e armar crianças é contra a lei. Incentivar a violência entre crianças é colocá-las na mira dos bandidos como presas fáceis para serem aliciadas pelo crime, que se aproveita das leis que protegem jovens e crianças para colocá-los na linha de frente do roubo, tráfico e até homicídios.


O Brasil foi o país no mundo que fechou as escolas por mais tempo na pandemia de Covid-19, deixando crianças e jovens sem absolutamente nenhum aprendizado por 178 dias, uma vez que mais da metade da população escolar brasileira encontra barreiras para o acesso à internet e aulas remotas. Isso sem falar nas centenas de milhares de órfãos desta pandemia, e nas milhares de famílias de desempregados e vivendo na miséria. Definitivamente, as nossas crianças não precisam de armas, precisam de políticas públicas, coisas que infelizmente o governo Bolsonaro até o momento não foi capaz de prover.


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