A pandemia vai se dissipar, mas os estragos levarão décadas para serem superados

O país chegou a 435 mil mortes pela Covid e mais de 15 milhões de contaminados

Por: Júnior Bozzella  -  17/05/21  -  09:25
  Foto: Matheus Tagé/AT

Quando digo que negligenciar a Covid-19 significa, consequentemente, negligenciar a economia falo sem qualquer dúvida e em letras capitulares que a pandemia, em algum momento, vai se dissipar, mas os estragos à economia do país talvez levem décadas para serem superados.


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O país chegou a 435 mil mortes pela Covid e mais de 15 milhões de contaminados. Muitas dessas pessoas precisaram de atendimento médico, de medicamentos para conter os sintomas ou ainda ficaram internados em tratamentos intensivos. Mas todas, de alguma forma, foram retiradas do mercado de trabalho por pelo menos 14 dias, pois ainda que assintomáticos todos precisaram necessariamente cumprir quarentena. O impacto disso para a economia é gigante e só não é mais avassalador do que o causado pela morte dos 435 mil brasileiros, muitos ainda precocemente.


Você, alguma vez na vida, já parou para se perguntar o que faziam cada uma dessas vítimas, se elas deixaram família, quantas pessoas ficaram afetiva e financeiramente desamparadas com cada uma dessas mortes? A sensação de fazer essa reflexão é sufocante, um misto de indignação e repúdio. Contudo, em um pais com uma mortandade pela Covid-19 como temos vivenciado aqui no Brasil, as perdas não afetam apenas a vida dos parentes daqueles que se foram, mas toda a estrutura econômica do país. São milhares de pessoas economicamente ativas que, do dia para noite, estão sendo retiradas do mercado de trabalhado e outras milhares de pessoas que ficaram repentinamente sem renda. O resultado disso é um Brasil ainda mais pobre.


Estamos falando em quase 450 mil famílias desestruturadas porque perderam um ou mais provedores. De 13 de março de 2020, quando foi notificada a primeira morte, até 30 de abril deste ano, levando em conta os 398 mil brasileiros que morreram de Covid até está data, de acordo com o Portal de Transparência do Registro Civil, 197,5 mil pessoas tinham de 20 a 69 anos e 200,5 mil tinham 70 anos ou mais. Economicamente falando, essa parcela dos que tinham de 20 a 69 anos vai deixar de gerar R$ 165,8 bilhões em renda futura segundo as projeções.


Observando-se todas as faixas etárias, dentro do período de pouco mais de um ano, aqueles que perderam a vida para a Covid-19 deixaram de gerar R$ 10,1 bilhões, dos quais R$ 5,4 bilhões se referem aos salários de pessoas até 69 anos e R$ 4,7 bilhões são rendimentos dos mortos com 70 anos ou mais.


Para ilustrar melhor o volume dessas perdas, esse valor representa quase um terço do Bolsa Família e cerca de um quarto do valor que deve ser gasto na extensão do auxílio emergencial. Infelizmente o número de mortos não parou de abril pra cá, pelo contrário, vem crescendo exponencialmente o que faz com que esses valores sigam em constante evolução.


Acima fiz um rápido apanhado citando apenas algumas perdas financeiras, porque as outras são imensuráveis. Com toda certeza a produção artística brasileira não será a mesma sem Paulo Gustavo, Agnaldo Timóteo, Ismael Ivo (bailarino e coreógrafo reconhecido internacionalmente) e Alfredo Bosi (escritor, crítico literário e membro da Academia Brasileira de Letras), e o Senado sem Major Olímpio. Assim é em todas as áreas... Quantos médicos, arquitetos, enfermeiros, pedreiros, garçons, professores, cientistas e tantos outros profissionais perderam a vida nesse quase 1 ano e meio de pandemia? A morte deles com certeza devastou as suas famílias, mas também impactou de alguma forma o Brasil.


O país caminha para meio milhão de mortos. É inadmissível que o governo Federal ainda pregue que a economia é mais importante do que a vida, e insista em não enxergar que o único jeito de salvar a economia é focando todas as energias em conter a pandemia, ou seja, é salvando as vidas que vem negligenciando age agora.


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