Não há nada de novo na MPB?

Antes que atirem pedras, é bom deixar claro que vários projetos com recriações de obras consagradas

Por: Julinho Bittencourt  -  18/10/23  -  06:10
  Foto: Divulgação

Antes que atirem pedras, é bom deixar claro que vários projetos com recriações de obras consagradas que andam circulando por aí são excelentes. Só de saída é bom citar o cantor e ator Silvero Pereira, soberbo em seu tributo a Belchior. Além dele, o bandolinista Hamilton de Holanda acaba de lançar um excelente álbum só com composições de Djavan.


Clique aqui para seguir agora o novo canal de A Tribuna no WhatsApp!


Além deles, vale destaque também o lindo Xande canta Caetano, álbum já comentado por aqui, em que o cantor e compositor Xande de Pilares regrava vários sucessos de Caetano Veloso. Circulou muito pelas redes, inclusive, um vídeo em que o cantor baiano se emociona ao ouvir em primeira mão a versão de Gente.


Há muito mais recriações dignas de nota. A questão, no entanto, é outra. Diante de tantas releituras e homenagens, fica a pergunta: não há nada de novo rolando na cena musical brasileira? Há.


De acordo com o relatório da empresa de dados e insights Luminate, cerca de 120 mil novas faixas são lançadas todos os dias em plataformas de streaming de música no planeta. Várias delas são feitas por brasileiros. Segundo o relatório, até o final de 2023, pelo menos 43 milhões de novas faixas estarão no Spotify.


A explicação para a predisposição dos ouvintes de música brasileira para o novo pode estar exatamente aí. A pessoa se vê atônita diante do oceano de possibilidades e, por conta disso, acaba voltando a navegar no pequeno lago que construiu ao longo da vida. Ou não.


É bom observar que dentro dos nichos mais populares, das canções para consumo rápido, o fenômeno se inverte. A incansável Anitta, por exemplo, produz sucessos ferozmente, com direito a megalançamentos com clipes ousados e várias participações. O mesmo ocorre com Pabllo Vittar, Ludmila, Iza entre outros.


A velha MPB, ou seja, a canção urbana dita culta e mais elaborada que em outros momentos fez a festa das famílias nos grandes festivais, parece ter mesmo sucumbido, vítima de si própria. Há quem diga que nunca mais surgiram compositores do nível de Chico Buarque, Caetano, Paulinho da Viola, entre outros.


Há quem, no entanto, defenda que o formato gastou. O próprio Chico afirmou, entre outras coisas, que o século da canção foi o passado, assim como o século 19 foi da ópera. Disse ainda que, daqui pra frente, as coisas mudariam.


O fato é que a grande música dos nossos tempos nunca deixou de ser gestada e segue viva. Há sinais claros disso em músicos como Bruno Berle, Ana Frango Elétrico e Tim Bernardes, só pra ficar em alguns. São obras feitas a partir de recortes eletrônicos, sons acústicos e outras colagens, lições que já se avizinhavam com os rappers, DJs e outros tantos artistas surpreendentes.


São novas gerações com várias maneiras de amar e encarar o mundo, discursos montados a partir das novas ferramentas e suas múltiplas formas de propagação. Um trem bala passando em disparada, mas que, mesmo sem saber, se alimenta da paisagem que ficou no caminho.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter