
( Foto: Vanessa Rodrigues/AT )
A relação de Saulo com o mar começou com a atividade laboral do pai, Izahir Nunes. Natural de Florianópolis, o construtor de barcos trabalhava em um estaleiro de Itajaí, quando decidiu montar seu próprio negócio ligado à construção de barcos de pesca.
Ele e a esposa Acires mudaram-se para Santos e aqui tiveram seu único filho. Saulo Nunes nasceu em 10 de setembro de 1956 na Casa de Saúde. Dois meses depois uma nova mudança na vida da família. Izahir comprou um terreno, construiu uma casa e um galpão para barcos no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo, onde funcionou por 12 anos, próximo ao km 11,5 da Via Anchieta. Izahir recebia a madeira de Ponta Porã e as toras eram cortadas na Serraria do Manifesto, do cunhado Nicolau Furtado.
O construtor chegou a ser chamado numa reportagem do Jornal o Estado de São Paulo como o Noé de São Bernardo. De volta a Santos, em 1968, morando no oitavo andar do Edifício Roosevelt, na Praia da Aparecida, Saulo teve seu primeiro contato com as ondas, numa pranchinha de isopor.
Pouco tempo depois apareceu o "marrento" Concaive com uma prancha Caixa de Fósforo. A galera se revezava na prancha surfando as ondas de Santos e do Guarujá. Nas ondas mais cheias até que a prancha desempenhava bem, mas bastou uma embicada numa onda cavada das Astúrias para a prancha literalmente abrir o bico, ficando parecida com um jacaré de boca aberta.
Os madeirites já faziam a cabeça da rapaziada e as pranchas de fibra de vidro apareciam hora ou outra. Saulo as conhecia das revistas Seleções e das importadas Surfing e Surfer, referências na época. Em 1969 ganhou um longboard Kamela Surfboards, de 2,40m, fabricado pelo Jô Hirano e a fissura pelas ondas só aumentou. Ele e o amigo Picareta passaram a explorar as ondas do Guarujá, nas Astúrias, Monduba ou Pitangueiras.
Nesse mesmo ano a Turma do Fifty, na esquina da Januário dos Santos com a avenida da praia, começou a se formar entorno da famosa lanchonete, entre eles, Picareta, Campedeli, João César, lrú, Adrio, os irmãos Alfredo e Leonardo, o Alfredinho do hóquei, os irmãos Carlos Eduardo e Cícero, Sol, Landinho, Biraca, todos moradores do Edifício Copacabana e arredores.
Para superar o peso da Kamela, Saulo decidiu fazer sua própria prancha. Ele comprou uma placa de dois metros de isopor, cortou, colou a longarina na placa e com um ralador fez um shape 6'6. Sem o material adequado para a laminação, inovou e plastificou o isopor com contact. Ele ainda aproveitou o segmento da longarina para finalizar com a quilha. A prancha despertou o interesse de simpatizantes do surfe e acabou sendo trocada por uma guitarra Rocket.
No início de 1971 aconteceu o encalhe do navio Recreio. Ancorado na Praia do Góes, um clima tempestuoso o arrastou para as areias da Ponta da Praia. Atravessado em diagonal com a praia, o navio criava uma pressão nas ondas, formando um point break.
Em 1972, ele e Orlando Picareta caminhavam pelo centro do Guarujá e viram, numa vitrine ne uma loja em frente ao antigo cinema, os troféus dos primeiros colocados do campeonato que iria se realizar na Praia de Pitangueiras, o 1º Campeonato de Surf do Guarujá. Os dois se inscreveram na competição e ficaram entre os primeiros colocados. Saulo foi o campeão, seguido de Flávio La Barre e Picareta em 3º.
Naquele mesmo ano, dessa vez nas Astúrias, o Guarujá recebeu o Campeonato Caballo de Totora, organizado pelos peruanos. As ondas estavam grandes depois da ressaca de sudoeste e o tempo, frio. Saulo, numa exibição de gala, imprimiu uma velocidade nunca antes vista pelos surfistas da região, arrepiou as ondas e levantou a taça mais uma vez.
Depois desses torneios, Saulo se afastou das competições, preferindo o surfe livre. Seguindo o exemplo do pai, tornou-se fabricante de barcos, chegando a morar, por dois anos, em um barco próprio de 34 pés. Além disso, dedicou-se a passeios turísticos e pescarias, fabricação de pranchas e móveis. Hoje, prefere pedalar e sentir a brisa suave do mar de Florianópolis, onde vive desde 1982.
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