
( Foto: Ilustração: Max )
Quando a gente viaja de carro pelas estradinhas vicinais de Minas Gerais, além de se encantar pelas peculiaridades de cada cidade, a gente constata que cada uma delas é a capital nacional de alguma coisa.
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E as placas já vão anunciando a fama do local bem antes de chegar nele. Afinal, geralmente, são cidades tão pequenininhas que, meia dúzia de ruas depois, você já saiu do município.
Pertinho de Tiradentes, seguindo pela Estrada Real, a gente vai se deparando com placas: O Legítimo, O Mais Famoso, O Melhor. Não desvie, vá seguindo a propaganda até chegar à pequenininha Lagoa Dourada, Capital Nacional do Rocambole. Sim, ali se produz, segundo a fama, o melhor rocambole do Brasil.
E eu acredito. Afinal, se tem lugar de comida boa, é Minas Gerais.
Difícil é escolher onde parar, porque toda loja se intitula a melhor – parece até bolinho de bacalhau em Santos! Escolhemos a chamada O Legítimo Rocambole. Daí é outro dilema: chocolate, doce de leite, goiabada, cocada, abacaxi, nozes, pêssego... São tantos sabores. Acabei com meia dúzia deles para viagem e mais umas fatias no estômago. Massa levinha e muito recheio fazem jus à fama.
Nem engatamos a segunda marcha no carro e já tínhamos saído de Lagoa Dourada. Alguns quilos mais pesados, chegamos a Resende Costa, a Terra do Artesanato Têxtil – uma única rua com uma lojinha grudada na outra vendendo uma infinidade de tipos de toalha de mesa e jogo americano.
Depois de renovar o enxoval, pé na estrada para descobrir qual seria a especialidade da próxima cidadezinha (torcendo para que fosse de comer, é claro).
Chegamos a Coronel Xavier Chaves, onde me senti naqueles filmes de faroeste sem uma viva alma na rua. Só faltaram os fardos de feno rolando pela via deserta. O carro passava e um ou outro saía na janela para olhar, como se fizesse um bom tempo que alguém aparecia por aquelas bandas. Nenhuma placa de melhor ou maior ou mais famoso.
Avistamos, então, uma igreja linda, toda feita de pedra aparente e visivelmente muito antiga. Paramos o carro e fomos tentar explorá-la. Mas ela estava trancada. Fomos em busca de informação. Naquele “jeitin” mineiro que economiza palavra, mas não gentileza, a senhorinha indicou a última casa da rua. E lá fomos nós. Para nossa surpresa, cinco minutos depois, estávamos com uma chave enorme de ferro na mão para entrarmos naquele patrimônio que depois descobrimos ser de 1717. Na hora de devolver a relíquia (ou trem na língua mineira), ainda tomamos um café com sequilho regado a uma prosa bem mineirinha.
Nas estradinhas de Minas, vamos nos deparando com a riqueza dos artesãos, que transformam barro, pedra, ferro e madeira em obras de arte. As mesmas que a gente vê dentro das igrejas, nas paredes e portas das casas e que vão contando a história e expondo a cultura tão impregnada naquela terra. Em Ouro Preto, a pedra-sabão. Em Tiradentes, a madeira nos móveis e relicários. São João del Rei forja o ferro à perfeição. Também ali, onde nasceu Tancredo Neves, está “a terra onde os sinos falam”. O morador reconhece pelo badalar da torre o que está sendo anunciado: procissão, cortejo, missa... Coisas desse Brasil que é rico não só em diversidade natural, mas também de gente.
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