No Dia do Goleiro, relembre a trajetória de Cláudio, gênio da posição

Atleta poderia ter sido titular na Copa de 1970

Por: Eduardo Silva  -  26/04/23  -  07:49
Excelente em campo, articulado fora dele, Cláudio marcou época no Santos
Excelente em campo, articulado fora dele, Cláudio marcou época no Santos   Foto: Arquivo/AT

Um dos jogadores mais técnicos que já vestiram a camisa 1 do Santos, Cláudio César de Aguiar Mauriz marcou época na Vila Belmiro e colaborou muito para a evolução da posição. Cláudio era um goleiro diferente. Com 1,76m, considerado baixo já naquela época, ele compensava a falta de uma estatura maior com técnica refinada, agilidade, impulsão e muita inteligência.


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Segundo o saudoso jornalista Michel Laurence, o ex-goleiro tinha uma tese: jogar no gol era um exercício de geometria, porque tirando o grande círculo e a meia-lua, todas as outras demarcações eram retangulares, e isso para um estudioso como Cláudio facilitava a saída do gol para fechar o ângulo dos atacantes.


Ele tinha uma postura alternativa no mundo do futebol. Lia muito nas concentrações antes dos jogos. Conversava e orientava os companheiros, que ficavam fascinados com o colega. Formou-se na Faculdade de Educação Física (Fefis), em Santos, falava inglês, francês, espanhol e “arranhava” um alemão, além do português consagrado em Portugal. Era o intérprete da delegação nas longas viagens do Santos pelo exterior. Edu, um gênio da ponta-esquerda, lembra muito bem disso. “Ele era poliglota. E eu colava nele (risos). Naquela época, não era qualquer pessoa que falava dois ou três idiomas, mas ele falava”.


Cláudio pode não ser tão conhecido para os torcedores mais novos, mas para os craques das décadas de 1960 e 1970, foi incomparável. Ele era carioca e começou jogando no Fluminense, time no qual chegou a treinar com o famoso Carlos Castilho, reserva de Gylmar dos Santos Neves na seleção brasileira. Ele também atuou no Olaria e no Bonsucesso até ser contratado pelo Santos, em 1965. Daí em diante, começou a história de um dos goleiros mais brilhantes do futebol brasileiro.


Abel Verônico, que também jogou com a camisa 11 do Santos, considera o amigo Cláudio um goleiro especial. “Era um fenômeno da posição. Na época do tricampeonato paulista (1967, 1968 e 1969), foi decisivo. Sem ele, não ganharíamos os três títulos seguidos”.


O artilheiro Nenê Belarmino sempre falou com carinho de Cláudio. “Ele não era alto, mas tinha mãos enormes e o poder de antecipar as jogadas, de fechar o ângulo. Era pegador de pênaltis e me contava que esperava o atacante definir a cobrança até o último segundo”.


Para Manoel Maria, o habilidoso ponta-direita do tricampeonato paulista do Santos, Cláudio jogou demais. “Cláudio César de Aguiar Mauriz foi o maior goleiro que eu vi. O melhor daqueles com os quais eu tive a felicidade de jogar”.


Também perguntamos a opinião de um especialista da posição, o ex-goleiro Edevar Sérgio Nicoletti. “É fácil falar do Cláudio. Era um goleiro muito técnico. Hoje, existem bons profissionais formados nos treinamentos modernos. O Cláudio já tinha qualidades natas, já que nem existiam treinadores de goleiros na época”. Edu completa: “Uma visão de jogo. Uma reposição de bola. E quando ele saía do gol, não tinha para ninguém. Foi um goleiro extraordinário”.


Cláudio foi importante para o Santos para a conquista do tricampeonato estadual no fim da década de 1960. Ele também defendeu a seleção brasileira
Cláudio foi importante para o Santos para a conquista do tricampeonato estadual no fim da década de 1960. Ele também defendeu a seleção brasileira   Foto: Arquivo/AT

Cláudio jogou mais de 220 partidas com a camisa do Santos, entre 1965 e 1973. Foi titular no tricampeonato paulista, nos anos de 1967, 1968 e 1969. Estava no grupo que dividiu o título com a Portuguesa de Desportos, em 1973. Também ganhou o Torneio Rio-São Paulo, Campeonato Brasileiro, Recopa Sul-Americana e Recopa Mundial.


Cláudio jogou no Santos até 1973 e morreu bem jovem, aos 38 anos de idade, em 1979, nos Estados Unidos, recorda Marcello Mauriz, filho do ex-goleiro: “Ele foi para os Estados Unidos para fazer uma cirurgia devido a um câncer de garganta. Faleceu no pós-operatório da cirurgia. Quando ele foi operar, ficou na casa do professor Júlio Mazzei nos Estados Unidos, e minha mãe contou que o Pelé estava todos os dias no hospital visitando meu pai. É importante relatar isso”.


Missão: substituir Gylmar no Peixe
Cláudio César de Aguiar Mauriz chegou ao Santos com 25 anos de idade e substituiu o lendário Gylmar dos Santos Neves. Na cidade de Santos, criou a família e foi morar no Bairro Aparecida, onde a viúva Lígia Rosa Mauriz mora até hoje. O casal teve dois filhos. Cláudio Rosa Mauriz, o Claudinho, chegou a jogar como goleiro do Portuários e na base do Santos, mas preferiu seguir a carreira de músico. Marcello Mauriz, o mais novo, é diretor de escola em São Paulo e foi um grande nadador na juventude.


Se Claudinho não seguiu a carreira de goleiro, o filho dele e neto de Cláudio, Lucas Mauriz, treinou nas escolinhas de Manoel Maria e Lima. Depois de jogar na linha, foi para o gol e atuou no futsal. Atualmente, Lucas é treinador de goleiros do time sub-17 do Red Bull Bragantino.


Em Santos, a família de Cláudio conviveu com a família do ponta-esquerda Abel. Ele e a esposa Vera eram tão próximos do ex-goleiro e de Lígia que escolheram o casal como padrinhos do filho Donald. Anos mais tarde, Abel e Vera foram padrinhos de casamento de Marcello Mauriz.


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