Vitória acima do esperado

Não se pode esquecer que o Legislativo tem a missão de fiscalizar o Executivo, o que exige da oposição mais engajamento

Por: Da Redação  -  03/02/21  -  09:00

As vitórias arrasadoras de Arthur Lira ((PP-AL) na Câmara e de Rodrigo Pacheco ( DEM-MG) no Senado garantem blindagem ao presidente Jair Bolsonaro perante pedidos de impeachment, mas falta entender a real dimensão desses resultados para a aprovação de pautas do Governo. Se Pacheco segue a linha do político mineiro conservador e ponderado que gosta de ser situação, Lira se tem temperamento parecido com o de seu mentor Eduardo Cunha.


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A decisão do presidente da Câmara de desfazer a composição da mesa acertada pelo antecessor Rodrigo Maia (DEM-RJ) mostra que é mais pelo embate às claras, ainda que ontem tenha concedido conversar com a oposição. Esse espírito combativo e uma votação acima do esperado - o Palácio do Planalto esperava 290 votos e se consumaram 302 - na prática aumentam o valor do passe de Lira e, por consequência, do Centrão, frente ao Executivo. A avaliação de que o Legislativo se dobrou ao presidente Jair Bolsonaro perdeu força. A farta distribuição de verbas e provavelmente de cargos são reais e devem dar resultados práticos ao Planalto, mas as negociações terão que ser bem costuradas.


Enquanto o presidente é ideológico, o Centrão é pragmático. Nos bastidores, deputados afirmaram que Bolsonaro acertou uma pauta mínima de temas que envolveu reivindicações de seu eleitorado fiel, como liberação das armas e uso de terras de reservas indígenas, que pouca serventia têm para o desenvolvimento do País. A equipe do ministro Paulo Guedes acha que a conquista do Congresso pelo bolsonarismo vai viabilizar reformas e privatizações. Mas o Centrão não é reformista e sempre foi gastador. Já Pacheco não tem grande empolgação por privatização, principalmente a da Eletrobras.


Aliás, os quadros que agora controlam as duas casas há tempos cobiçam diretorias das estatais e dos bancos públicos, em especial os da Caixa, e também ministérios de vasta capilaridade pelo País, como os da Saúde, Educação e Desenvolvimento Regional. O Centrão quer cargos não só para garantir altos salários para seus apadrinhados, mas também com bons orçamentos, o que nem sempre o governo estará disposto a ceder. Como Lira se mostrou um hábil negociador, mesmo que com apoio do Planalto, a tendência é seu grupo cobrar mais e mais influência do governo a cada a votação que emplacar. Funciona assim, por encomenda.


Em meio ao que os dois novos presidentes das duas casas vão contribuir ou não para o governo, não se pode esquecer que o Legislativo tem a missão de fiscalizar o Executivo, o que exige da oposição mais engajamento, pois ela andou apagada nos últimos anos, nocauteada pela vitória da direita e do bolsonarismo. Agora os adversários do Planalto contarão com o reforço de Maia, que estará do lado dos oposicionistas pela força das circunstâncias. Não está claro se ele assumirá algum protagonismo antigoverno ou se vai apenas tentar se recompor no DEM com vistas para 2022.


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