'Todo mundo paga pau para o Brasil'

Quantos meninos e meninas da periferia poderiam ter a vida modificada com o estímulo que vem do esporte?

Por: Redação  -  02/08/21  -  06:56
 Estímulo do esporte precisa vir desde cedo
Estímulo do esporte precisa vir desde cedo   Foto: Divulgação

Quem acompanha os Jogos Olímpicos de Tóquio já se acostumou às entrevistas emocionadas e emocionantes dos atletas brasileiros que sobem ao pódio para receber uma medalha, seja qual for a cor. Um dos depoimentos mais longos e cheios de pontos reflexivos foi do nadador Bruno Fratus, de 32 anos, que no sábado realizou o sonho de levar para casa uma medalha, a de bronze, nos 50 metros livre. Disse Fratus: “Se é para deixar uma mensagem é que o Brasil é o melhor povo, o melhor país do mundo. Eu moro nos Estados Unidos faz um tempo e todo mundo paga pau para o Brasil e para o povo brasileiro. A gente é muito capaz. Se permitirem ser o povo que a gente pode ser, o país que a gente pode construir”.


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Em três minutos de entrevista, Fratus deu o recado que, intimamente, todos absorvem: se deixarem, o Brasil é capaz, o Brasil pode ser, o Brasil não fica devendo nada a outras nações. A frase pode ser aplicada a qualquer contexto, mas neste momento, importa o cenário esportivo, os Jogos Olímpicos e as histórias que todos têm acompanhado de atletas brasileiros anônimos que, em Tóquio, expõem para o mundo quantos degraus escalaram antes de subir ao pódio.


Ítalo Ferreira, de 27 anos, começou surfando em uma tampa de isopor do pai pescador, na pequena comunidade de Baía Formosa, no Rio Grande do Norte. Rebeca Andrade, filha da diarista Rosa Santos, treinava com os poucos recursos da mãe e dos irmãos mais velhos, que a levavam a pé ao centro de treinamento, na periferia de Guarulhos. Medalha de ouro no salto, medalha de prata no individual geral da ginástica.


Mais do que revelar talentos e emocionar quem assiste aos jogos, a Olimpíada escancara histórias assim, em geral de superação, resiliência e esforço da família para manter o sonho dos filhos que, durante os primeiros anos de vida, expõem seus talentos acima da média. É preciso ter a sorte de ‘ser descoberto’ por alguém que os encaminhe a um eventual patrocinador ou federação, para que ganhe espaço e possa se manter nos treinos.


Para além de integrar uma equipe em Jogos Olímpicos ou subir ao pódio, o esporte é sabidamente uma oportunidade para crianças e jovens descobrirem valores humanos como trabalhar em equipe, manter a saúde, ter foco e disciplina. Em se tratando de comunidades da periferia, onde caminhos tortuosos estão sempre disponíveis e com fácil acesso, o esporte pode, sim, ser a porta de entrada para uma trajetória diferente, ainda que não seja da competição profissional, mas da vida digna.


As histórias de parte desses medalhistas brasileiros mostram que, infelizmente, o incentivo ao esporte não é uma premissa ou política pública perene. Quantos talentos estarão à espera de quem os descubra? Mais que isso: quantos meninos e meninas poderiam ter a vida modificada com o estímulo que vem do esporte? Todos querem ‘pagar pau’ para o Brasil, especialmente os brasileiros.


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