Sem brechas no essencial

Falta ao Brasil algo que não resolverá, pelo menos, até 2022: um governo central que refute o curandeirismo na saúde pública

Por: Da Redação  -  02/03/21  -  10:10

Quais são as formas de tratamento precoce disponíveis contra a covid-19? Uso de máscara facial, limpeza das mãos com água e sabão ou álcool em gel, manutenção de distanciamento social e, quando possível, isolamento. Repetir é preciso, ainda que exaustivo. E, finalmente, está em curso outra ação no Brasil, ainda que devagar: a vacinação.
O Governo Federal tem dinheiro para adquirir imunizantes. O País dispõe de um internacionalmente reconhecido esquema de cobertura vacinal. Mas falta ao Brasil algo que não se resolverá, pelo menos, até o final de 2022: um comando central alinhado às evidências científicas e que refute o curandeirismo como método de saúde pública.
Enquanto prefeitos e governadores lutam contra dificuldades, como o reforço de leitos de UTI para pacientes com coronavírus, a aquisição de oxigênio e o desprezo de medidas sanitárias por parte do povo, em quaisquer faixas etárias e socioeconômicas, caberia a Brasília, se tivesse um líder firme e sensível, tomar as rédeas da situação.


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Lamentavelmente, não tem. Desde abril do ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que estados e municípios são autônomos para tomar as medidas que julgarem necessárias para frear a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro interpreta a sentença à sua maneira, afirmando que o STF o proibiu de agir nesse sentido.


É uma falácia que, ontem, fez 16 governadores emitirem uma nota na qual criticam o Governo Federal por “priorizar a criação de confrontos, a construção de imagens maniqueístas e o enfraquecimento da cooperação federativa essencial aos interesses da população”.


A despeito do que governos estaduais têm feito, não também sem equívocos, deve-se considerar inadmissível que homens públicos dos quais se espera um mínimo de sagacidade tenham demorado quase 11 meses para exprimir o óbvio. E que tenham sido apenas 16 dos 27, num sinal de que o alinhamento político se sobrepõe às pessoas.
A nota foi divulgada pela manhã. Também antes do meio-dia, que fez o presidente? Em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, repetiu que “esses medicamentos — hidroxicloroquina, ivermectina e Annita — não têm efeito colateral. Por que não tomar?”. Outra vez, o tal “tratamento precoce”. Curandeirismo.


Em meio a um recorde nacional de mortes por covid-19, Bolsonaro também repudiou a ideia de lockdowns, alegando que “não deram certo no ano passado”. Neste ponto, ele está certo: com sua postura pessoal, desprezou, e continua a sabotar, medidas emergenciais de saúde. Ainda popular, influi negativamente em parte da população.
Com a deserção do Governo na linha de frente do combate à pandemia, espera-se que estados e prefeituras fujam a tentações populistas caso olhem para 2022. Se optarem pela rigidez, que não abram brechas no que é essencial — como o governador João Doria fez ao incluir igrejas nesse rol, num aceno inoportuno a grupos religiosos.


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