Recordes seguidos do agronegócio

O problema começa quando a produção agrícola é colhida e precisa ser distribuída pelo País ou levada aos portos

Por: ATribuna.com.br  -  01/03/23  -  06:17
O uso da tecnologia permitiu que o agricultor brasileiro conseguisse aumentar sua produção
O uso da tecnologia permitiu que o agricultor brasileiro conseguisse aumentar sua produção   Foto: Jaelson Lucas/AEN

A impressão que se tem é de que a expansão das safras agrícolas no País se dá exclusivamente por novas áreas destinadas ao plantio, com avanço sobre as matas. Entretanto, o uso da tecnologia permitiu que o agricultor brasileiro conseguisse aumentar sua produção sem ter que igualmente expandir sua fazenda. Segundo a Embrapa, entre 1975 e 2017, a área plantada dobrou, enquanto a colheita saltou seis vezes, de 38 milhões para 236 milhões de toneladas. Agora, em 2023, a expectativa é atingir 300 milhões de toneladas, conforme A Tribuna mostrou há duas semanas.


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Tal desempenho modifica o perfil da economia nacional, o que traz implicações no crescimento das cidades de médio e menor portes no Interior, na geração de uma nova classe média, na oferta de carreiras profissionais de melhor remuneração e na expansão de serviços e indústrias associados ao meio rural. O vigor desse setor também é uma oportunidade para o Porto de Santos, que se aproveita da continua elevação das exportações agrícolas, em especial a soja.


No País, os agricultores já conseguem produzir três safras em um só ano. Enquanto colhem, o plantio da próxima etapa já começa, por exemplo, retirando de uma mesma terra, em sequência e no período de 12 meses, feijão, soja e trigo, conforme mostrou reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. A melhoria generalizada do campo brasileiro está associada ao plantio direto, à irrigação e ao aprimoramento genético.


De acordo com a Embrapa, a produção com três safras avança em todo o País, atingindo 70% da área cultivada, uma das razões para que se repita ano a ano as safras recordes, exceto na escassez hídrica, como a de 2021-2022. O destaque é a soja, com 46 milhões de hectares – é como se as áreas de São Paulo e Paraná fossem todas ocupadas pela planta. Conforme a empresa de pesquisa, esse grão é altamente produtivo e preserva e enriquece o solo, evitando sua exaustão. Por isso, ele entra no esquema de rotação das três safras por ano.


Produtividade e eficiência também são notadas em outros países, como Estados Unidos, e na Europa, porém, invernos rigorosos impedem que tenham um desempenho como o brasileiro. O problema do Brasil começa quando a produção agrícola é colhida e precisa ser distribuída pelo País ou levada aos portos. Infraestrutura ultrapassada, com estradas esburacadas e sinuosas, falta de ferrovias, assaltos e carga tributária corroem a lucratividade do Brasil com o agronegócio. O perfil do campo mudou e os governos devem se adaptar a isso, inclusive para redirecionar o ensino para as novas necessidades de mão de obra.


É óbvio que não se espera que o Brasil concentre todas as suas riquezas apenas no agronegócio. As grandes metrópoles e um país de dimensões continentais precisam usufruir de um economia diversificada, lembrando que o setor rural está associado ao fator ambiental, com regime de chuvas interligado à própria proteção das matas.


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