Quando o todo depende da parte

O mundo vive o mais importante capítulo de uma história em que a postura individual influencia sobre o coletivo

Por: Da Redação  -  08/03/21  -  11:00

É compreensível e legítima a preocupação de comerciantes e empresários da região que não estão classificados como serviços essenciais e, portanto, tiveram que fechar as portas ao atendimento a partir do último sábado e pelas próximas duas semanas. Sem uma manifestação clara, por parte dos governos, de que a queda de seus faturamentos estará de alguma forma compensada por uma política tributária generosa, eles temem que o prejuízo possa levar a novas demissões, endividamento ou, até, o encerramento de suas atividades.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal, GloboPlay grátis e descontos em dezenas de lojas, restaurantes e serviços!


O que não se pode aceitar, isto sim, é o que se observa no outro lado dessa corrente, ou seja, nos setores considerados essenciais e, portanto, com manutenção de portas abertas todos os dias da semana. 


No primeiro final de semana da vigência da fase vermelha, a mais restritiva do plano, o que se viu em alguns supermercados de rede e de bairro, padarias e feiras livres foi a flexibilização voluntária de exigências quanto ao uso de máscara e distanciamento entre as pessoas. Nas feiras livres, pessoas se aglomeram em barracas e o uso de máscara nem sempre é seguido da forma como deve ser. Não há fiscalização por parte de agentes municipais, mas é difícil acreditar que, no estágio da pandemia em que se está, ainda seja necessário tutelar as pessoas sobre como devem se comportar.


Importante destacar que esse tipo de comportamento não é exclusivo dos municípios da região. Mesmo neste momento da pandemia, o mais agudo no Brasil até agora, em que quase todos conhecem alguém que morreu em função da covid-19, proliferam Brasil afora comportamentos que atentam contra a própria chance de sobrevivência. Acadêmicos e teóricos ouvidos em reportagem recente tentam explicar o inexplicável: há um efeito rebote de medidas de restrição longas que não foram organizadas e, por isso, não foram efetivas. Além disso, dizem, há uma acomodação do cérebro em lidar com o medo, de tal forma que ele acaba incorporado ao dia a dia.


Qualquer que seja a explicação teórica sobre posturas tão inadequadas em um país que vem contabilizando quase 2 mil mortos por dia, fato é que mitigar os efeitos da pandemia só será possível de duas formas. A primeira é pela vacinação em massa, que no País segue em passos lentos e sem data para terminar. A outra é agir coletivamente, com base em tudo que já se sabe, se falou, se viveu, se escutou de médicos, autoridades sanitárias e especialistas. 


Comerciantes que, autorizados a funcionar por estarem à frente de serviços essenciais, permitem transgressões a regras já tão conhecidas têm, sim, responsabilidade e precisam responder por isso. Por outro lado, o Brasil e o mundo estão vivendo talvez o mais importante capítulo de uma história em que a postura individual influencia decisivamente sobre o coletivo. Ainda é tempo de se aprender a lição, porque outros enfrentamentos poderão vir mais para frente.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter