Quando coletados com rigor e isenção, dados científicos servem para radiografar a sociedade e seus diversos aspectos, jogando luz sobre realidades que, muitas vezes, nem todos querem enxergar. O IBGE divulgou, na última sexta-feira, o mais novo levantamento comparativo sobre a renda de pessoas pretas e brancas no Brasil. É a segunda edição do estudo.
Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, que analisa disparidades em áreas como mercado de trabalho, moradia e educação. No caso da renda, o dado assusta: em 2021, brancos receberam em média R$ 19,00 por hora de trabalho, um valor que supera em cerca de 74% o rendimento dos pretos, que foi de R$ 10,90, e em 68% dos pardos (R$ 11,30).
Os números apenas evidenciam uma realidade que, a olho nu, se verifica em grandes empresas, escritórios, universidades e até mesmo no serviço público. Raras são as companhias que já têm, em seu quadro funcional, equidade de colaboradores brancos e pretos, assim como ainda não se chegou ao equilíbrio racial nos ingressantes em instituições públicas de ensino superior, apesar da Lei de Cotas ter completado dez anos em fevereiro deste ano. Quando criada, a intenção da lei era servir de correção temporal entre dois mundos até que eles estivessem próximos desde a primeira infância. Ao que tudo indica, ainda levará décadas para que isso aconteça.
Há, porém, boas notícias dentro do universo do trabalho. O Brasil das desigualdades vem adentrando firme em uma agenda mundial que busca dar mais equilíbrio entre pretos, brancos e partos no mercado de trabalho. Conhecida como ESG (Environmental, Social and Governance), a agenda já vem sendo seguida como norte para empresas que querem ser valorizadas pelo consumidor e pelos mercados como plural e diversa, reproduzindo dentro dos escritórios a paleta étnica que existe do lado de fora. Essa com certeza será uma forte ferramenta para garantir mais e boas oportunidades de emprego e renda para pretos e pardos. Mas para além do ESG, são bem-vindas ações afirmativas de outros segmentos que busquem qualificar e valorizar esse público.
Na semana em que se comemora a Consciência Negra (20 de novembro), é de grande relevo ter dados como esses para que a data não seja apenas mais uma no calendário nacional.