O recado que vem das ruas

Atual momento não é de consenso forte o suficiente para levar às ruas multidões em defesa de uma única bandeira

Por: Redação  -  14/09/21  -  07:09
  Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Medir a temperatura da política a partir dos movimentos de massa organizados por partidos, sindicatos e entidades de classe tem se tornado frequente. Se teve boa adesão popular e levou centenas de milhares de pessoas a ocupar quarteirões e bairros inteiros, sinal de sucesso. Ao contrário, se agitou apenas meia dúzia de aderentes e não gerou engajamento em redes sociais, fracasso. Com a régua a essa altura, os dois últimos movimentos de rua teriam como conclusão absoluta que o 7 de Setembro representou forte capital político para o presidente Jair Bolsonaro, e o de domingo passado, pelo contrário, foi o fiasco dos opositores.


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Sobre o 7 de Setembro, não há como negar que as convocações feitas pelo chefe da Nação, já há mais de um mês, surtiram o efeito esperado para a ala que o defende. Com ou sem legitimidade nos discursos, fato é que multidões foram às ruas, em várias capitais e em Brasília, em sua defesa e das bandeiras que ele empunha: demissão dos ministros do STF, voto impresso auditável, entre outras.


O oposto se viu domingo passado, em que os protestos convocados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e pelo Vem Pra Rua (VPR), embora tenham se espalhado por 18 capitais, não fizeram frente à movimentação bolsonarista. Com o mote do Nem Nem (Nem Bolsonaro, Nem Lula), os protestos tinham como foco a defesa do impeachment de Bolsonaro e essa, talvez, tenha sido a razão pela qual a adesão foi baixa. Não há consenso sobre lançar mão, novamente, do impedimento do presidente neste momento pelo qual o País atravessa. Muitos podem estar contra o governo e o presidente, mas daí a defender novo e desgastante processo de impeachment tem larga distância.


Por outro lado, a profusão de lideranças que puxaram o movimento de domingo e subiram em carros de som não encontra eco homogêneo entre os que defendem a chamada terceira via. Estiveram na Avenida Paulista, por exemplo, Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Simone Tebet (MDB) e, no Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). O PT não participou, obviamente, pelo perfil excludente do movimento Nem Lula, Nem Bolsonaro.


Diferentemente da campanha pelas Diretas Já, deflagrada no início dos anos 80 em defesa da volta das eleições diretas para presidente, o atual momento não é de consenso forte o suficiente para levar às ruas multidões em defesa de uma única bandeira. Ter críticas em relação ao atual governo não significa aderir às bandeiras prontas dos oposicionistas. Há uma legião de brasileiros à espera do transcorrer dos fatos para definir quais caminhos adotar.


Sob uma certa análise, o movimento de domingo passado deixa esse recado aos que se autodefinem como terceira via, imaginando que o ataque ao presidente possa capitanear empatia um ano antes das eleições. Neste momento, é prematura qualquer avaliação sobre o cenário para 2022.


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