O Brasil na geopolítica do petróleo

São questões importantes para os brasileiros que os políticos, com visão de curtíssimo prazo, ignoram por completo

Por: Redação  -  03/07/22  -  06:45
  Foto: Pixabay

Tal como no começo dos anos 1970, as grandes economias redescobriram que a ainda principal fonte de energia, o petróleo, permanece profundamente atrelada a fatores geopolíticos, segundo um panorama bem detalhado na semana passada pelo jornal britânico Financial Times (FT). O processo de transição para a sustentabilidade em substituição ao carbono continua, mas não no ritmo que o meio ambiente precisa para parar de agonizar. O Brasil (que não foi citado pelo FT) não escapa desse choque de realidade, pois o próprio ouro negro hoje está na raiz da inflação e no centro das medidas que o Governo Bolsonaro delineia para conseguir a reeleição.


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A invasão da Ucrânia é o nó principal de uma queda de braço. Por isso, a duração desse conflito vai definir se a economia mundial vai girar mais rapidamente ou não nos próximos anos. De um lado está a Rússia, que tenta sufocar os europeus por falta de gás. Já a União Europeia reativa antigas reservas de carvão, passando por cima de décadas de lutas dos verdes, e fecha acordos às pressas com o Egito, Israel e Senegal para construir rotas alternativas de gás.


A China e a Índia aproveitam para comprar petróleo russo mais barato. Mas o que a Rússia vai fazer com seu gás no curto prazo? Perderá bilhões com a ociosidade, pois ele é levado por dutos aos europeus, diz o FT. Os americanos são os que menos sofrerão, exceto no preço dos combustíveis, a grande dor de cabeça de Joe Biden. Na geopolítica do petróleo, a situação de Washington é bem mais confortável. De um lado, há um parceiro nada democrático, mas fiel, a Arábia Saudita. Do outro, o xisto, alternativa de alto impacto ambiental, porém financeiramente viável quando o petróleo se valoriza.


No caso brasileiro, analistas afirmam que o País ainda se beneficiará da alta das commodities (minérios, alimentos e também petróleo) e por ser um emergente sem vetos (como China ou Rússia). Por aqui, a dúvida está na Petrobras. Desde o Governo Temer, a Lei das Estatais blindou as empresas públicas contra indicações políticas e fatiamentos partidários. Agora, o Palácio do Planalto parece ter achado uma fórmula, longe do esperado, para furar essa governança e segurar os preços dos combustíveis.


Há alguns anos, sem estardalhaço, a estatal lançou plano de modernização das refinarias, hoje preparadas para receber o petróleo importado, para processarem o do pré-sal. Isso deverá reduzir a dependência de derivados de fora. Será que a empresa, com a intromissão governamental, terá receita e acesso a créditos internacionais para investir em seus projetos, que incluem a extração em águas ultraprofundas com investimentos elevadíssimos? São questões corporativas, mas importantes para os brasileiros, que os políticos, com visão de curtíssimo prazo, ignoram por completo. Como os analistas dizem, a ordem mundial mudou e ainda não se sabe se o Brasil se adaptará sem traumas a ela.


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