O acidente, o canal e o futuro

A previdência pede que o debate sobre uma ligação seca seja feito com urgência, para mitigar novas ocorrências

Por: Redação  -  22/06/21  -  07:55
  Píer ficou destruído após colisão de navio em Guarujá
Píer ficou destruído após colisão de navio em Guarujá   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Quarenta e oito horas após um dos mais graves acidentes ocorridos no canal do Porto de Santos, o saldo está parcialmente consolidado: fila na travessia de balsas, demora de até um hora, destruição completa das plataformas de ciclistas e pedestres e estragos estruturais nos atracadouros de carros e motos, ambos do lado de Guarujá, O acidente ocorreu na tarde de domingo, quando o porta-contêiner Cap San Antonio, de bandeira dinamarquesa, deixava o Porto de Santos com destino a Paranaguá (PR). A embarcação também sofreu avarias no casco e ficará no cais até que se tenha segurança de navegação.


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O valor dos prejuizos ainda não está estimado, tampouco quem pagará por eles. Ainda não se sabe quanto tempo será necessário para que os atracadouros de carros e motos voltem a operar normalmente ou quando ciclistas terão sua rota restabelecida - é são muitos os trabalhadores que se utilizem desse modal diariamente.


Mas de uma coisa, ao menos, se pode ter certeza: acidentes assim, com ou sem vítimas, poderão se tornar mais frequentes se se confirmarem as projeções feitas pela Autoridade Portuária para o crescimento da movimentação de navios no Canal do Porto de Santos. Estudos feitos em 2019 para integrar o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto de Santos projetam uma movimentação crescente de navios no canal, ano após ano, até atingir a capacidade máxima de 12 mil embarcações em 2060. Atualmente, pouco mais de 5 mil navios por ano circulam pelo canal.


Os dados e projeções são a melhor ferramenta para desenhar o futuro, prever embaraços e corrigir eventuais problemas, com vistas não apenas à segurança como também ao desenvolvimento da região. Já que não é possível ampliar o canal de navegação para garantir mais mobilidade ao tráfego de navios, só resta como opção estruturante construir a ligação seca entre as margens, seja ela por ponte ou por túnel. O debate é antigo e já está desacreditado em diversos segmentos da sociedade, mas nunca se fez tão necessário como agora, em que é preciso assegurar condições para que tanto o Porto continue competitivo como para garantir uma travessia segura.


À certeza de que a movimentação de navios só crescerá nos próximos anos junta-se o fato de que as embarcações serão cada vez maiores, como o próprio porta-contêineres que protagonizou o acidente de domingo.


A colisão ocorreu nos atracadouros, felizmente sem vítimas, mas poderia ter sido contra uma balsa já repleta de veículos à espera da passagem para fazer a travessia. A julgar pelo estrago, é possível imaginar o tamanho da tragédia e quantas possíveis vítimas o episódio teria deixado.


Túnel ou ponte, por meio de parcerias, concessões ou verba pública, fato é que o debate sobre a ligação seca é prioridade. Uma obra dessa envergadura não se faz do dia para a noite. Previdência é a palavra de ordem, e ela não tem cor partidária.


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