Lucros na despedida

A estratégia de Castello Branco estava bem delineada conforme o liberalismo de Paulo Guedes

Por: Da Redação  -  26/02/21  -  09:42

Poucos dias depois do presidente Jair Bolsonaro afirmar que o gestor da Petrobras, Roberto Castello Branco está “cansado” e há 11 meses em home office, o que é “inadmissível” (o executivo tem mais de 60 anos e está no grupo de risco para covid-19), o balanço financeiro da estatal trouxe números que impressionaram. Depois de três trimestres ruins devido ao impacto da pandemia no setor, a empresa lucrou R$ 59,9 bilhões de outubro a dezembro – alta de 635% sobre igual intervalo de 2019. No total de 2020, foram R$ 7,1 bilhões de lucro (os três primeiros trimestres apagaram o ganho do quarto período do ano).


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Segundo projeção do Estadão os resultados chegaram a ser quatro vezes melhores do que os analistas esperavam. Castello Branco deixa seu cargo em 20 de março e, com base nos dados positivos, os comentários depreciativos de Bolsonaro podem estar relacionados a algum problema de trato pessoal, mas não de desempenho. Na verdade, a crise entre os dois tem origem bem definida, que é o aumento dos combustíveis e, consequentemente, a militância dos caminhoneiros, considerados uma das trincheiras eleitorais do bolsonarismo. Castello Branco cometeu a insensibilidade de afirmar publicamente que caminhoneiro não era problema dele. São sim, como qualquer classe de consumidor.


A questão é que o presidente da estatal atravessou a estratégia de Bolsonaro de se reeleger. O presidente dispensou de forma truculenta Castello Branco, pois precisava mostrar aos eleitores que estava inconformado com a alta dos combustíveis e que, como lhe é característico, não tinha responsabilidade também sobre esse problema.
Porém, a bronca pública gerou uma consequência inesperada para ele, mas previsível, que é o rompimento com o mercado. No setor financeiro, o bolsonarismo tem um de seus pilares devido à ilusão de que o presidente é liberal na economia. Nunca foi. Tanto que nesta semana correu para despejar no Congresso projetos de privatização da Eletrobras e dos Correios para demonstrar reconhecimento à fidelidade do ministro da Economia, Paulo Guedes.


A estratégia de Castello Branco estava bem delineada conforme o liberalismo de Guedes. Cortar na própria carne (da estatal) para reduzir uma das maiores dívidas empresariais do mundo, que agora está em US$ 75,5 bilhões, após reduzi-la em US$ 11 bilhões no ano passado. Seu grande projeto era ignorar o refino e outras tarefas e focar apenas o pré-sal, mais rentável ainda agora com a volta das altas do petróleo, aliás o motivo das queixas dos caminhoneiros e de qualquer motorista. A empresa também fez uma redução da folha estimada em um quinto do custo salarial. Ainda não se sabe que Petrobras se terá daqui para frente. Para o presidente terá que ser aquela que não vai minar seu projeto eleitoral. O general Silva e Luna terá desafio de conciliar vários papéis para a petrolífera.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter