De acordo com o sociólogo do fórum, Renato Sérgio de Lima, os números indicam que alguns estados conseguiram reduzir os índices por meio de mudanças na atuação das polícias. No lado negativo, as facções criminosas e milícias aumentaram suas presenças na Região Norte, a partir de bases nas prisões. Isso explica a epidemia da criminalidade no Amazonas, onde as quadrilhas conseguem avançar à vontade pelas regiões, na mata e nas fronteiras.
Os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips simbolizam a ausência do poder público nessas áreas remotas. Aliás, das 30 cidades mais violentas do País, 13 estão na Amazônia Legal (Região Norte mais Mato Grosso, Tocantins e metade oeste do Maranhão), provando que o desmatamento e o avanço de atividades ilegais, como garimpo, extração de madeira e pesca, mais o tráfico de drogas, deixam um rastro de mortes violentas.
Com esse retrato assombroso da violência, as polícias e a sociedade civil precisam fazer um pente-fino nas políticas de segurança pública que deram certo para levá-las aos demais estados e adaptá-las conforme as particularidades de cada região. Há criminalidades específicas em bolsões de miséria nas grandes metrópoles, outras nas cidades médias, que cresceram rapidamente e ainda não receberam reforço policial, e também nas pequenas localidades em áreas estratégicas para o crime, como fronteiras.
O impacto da violência epidêmica no País precisa ser avaliado em um contexto amplo, que envolve perdas econômicas, com empresas avessas a se instalarem ou atuarem nas periferias e desamparo das famílias que têm seus entes assassinados. E também problemas psicossociais, com pessoas trancadas em casa, abusos por parentes, como agressões e estupros, e incapacidade de fazer um simples passeio em uma praça ou caminhar à noite, prática comum nos países seguros.