Habitação digna, um imã

Morar no Centro é uma ideia que vai além de capital político. Se der certo, fará ressurgir uma região histórica

Por: Redação  -  18/05/21  -  09:40
Atualizado em 18/05/21 - 09:41
 Centro de Santos
Centro de Santos   Foto: Matheus Tagé/AT

Na desejável hipótese de ter sucesso, a atração de habitantes para a ocupação de moradias dignas na região central de Santos merecerá reconhecimento mundial. Agravados pelos efeitos da pandemia de covid-19, o esvaziamento e a favelização desse perímetro se dão pela ausência, ao menos até agora, de planos viáveis para sua reversão.


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Até meados do século passado, bairros como Centro, Vila Nova, Paquetá e Valongo tinham papéis residencial e econômico preponderantes na vida do Município. Não para menos, os mais antigos ainda chamam o Centro de “Cidade”, pois estava ali uma urbanização consolidada — casas, comércio, serviços, diversões, sedes de governo.


Com a facilidade de acesso às praias e aos terrenos mais próximos delas, antigos núcleos se deslocaram. Com o surgimento da Via Anchieta, entre as décadas de 1940 e 1950, viajantes passariam primeiro pelo Centro e, então, chegariam à orla. Mas faltaram políticas locais para manter o Centro atrativo, como espaço turístico adicional ao veraneio, por exemplo.


Esquecida pelo Poder Público e abandonada pelos velhos residentes, a região central perdeu nove de cada dez moradores em 60 anos. Em 1950, havia ali 44.401 pessoas, ou 22,8% dos santistas. Em 2010, 4.307, apenas 1% da população. Como não houve Censo em 2020, qualquer atualização é estimativa.


A Prefeitura, afinal, começa a pôr em prática uma proposta noticiada por este jornal no domingo. Considerada prioritária pela gestão atual, busca criar moradias dignas do nome nos bairros Centro, Paquetá, Vila Nova, Valongo, Chinês e Vila Mathias.


O plano contém etapas. A primeira, o cadastro de imóveis cujos donos tenham interesse em incluí-los nesse programa habitacional. A segunda decorrerá da adesão desses proprietários: um mapeamento de casas, prédios, lotes e terrenos, inclusive públicos e sob proteção histórica, a serem visitados por técnicos municipais.


A terceira fase consistirá em que empresas apresentem, sem custo ao erário, propostas ou estudos para solucionar os problemas detectados pela Administração. Depois de tudo isso, haverá um edital para composição de parceria público-privada destinado à construção de moradias. Por ora, intenções ambiciosas pelas quais se deve torcer.


Se bem conduzida, com uma convincente campanha de divulgação para investidores em potencial na região e País afora, essa política habitacional chamará a atenção de empresários que sabem ver e aproveitar oportunidades.


Trata-se de uma ideia muito além da geração de capital político. Bem-sucedida, fará ressurgir um espaço gradualmente posto de lado por governos e particulares. A retomada da ocupação do Centro com habitações adequadas — e para as quais se espera prioridade aos já residentes, para que ali continuem vivendo, mas bem — poderá abrir caminho a empreendimentos que nunca chegam a essa região porque ela, antes pujante, afasta.


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